27/04/16 14h00

Expansão regional é opção para brasileiras

Valor Econômico

A crise pela qual passa hoje o mercado doméstico, com estagnação da demanda e investimentos reduzidos, imobiliza boa parte do crescimento das companhias brasileiras, mas também abre oportunidades para que as empresas interessadas em expansão olhem para o mercado internacional, especialmente a América Latina.

Casos de companhias bem-sucedidas na região foram levantados e analisados pelo segundo estudo de uma séria produzida pela consultoria Deloitte, que dessa vez se debruçou sobre os fatores que ajudaram essas companhias a prosperar. A pesquisa, obtida pelo Valor, concentra-se nas chamadas "multilatinas": empresas latino-americanas que cresceram fora das suas fronteiras, mas cujos clientes, receita e operações continuam em grande parte na região.

De forma geral, a constatação é que, se aproveitarem o conhecimento local para movimentos de expansão, as brasileiras devem vislumbrar novas oportunidades na América Latina, seja no crescimento orgânico ou inorgânico, em especial em um momento de continuidade das incertezas no campo político e econômico interno.

"O Brasil tem hoje empresas de importante representação global, mas as companhias locais não estão aproveitando tanto a oportunidade de se regionalizar. Nosso estudo constatou que Brasil tem, como o México, acesso a uma qualidade superior de executivos, com experiência, bem formados, e melhor acesso ao capital. Os brasileiros conhecem mais a região, então esse tipo de expansão é estratégico", afirma Omar Aguilar, líder de consultoria em estratégia e operações da região Américas e um dos coordenadores do estudo.

A pesquisa teve foco em quatro países mais relevantes para as multilatinas - Brasil, México, Chile e Peru. A amostra contou com a análise de 16 companhias de capital aberto nessas regiões, filtradas a partir de um total de 40 empresas multilatinas, e observou algumas características comuns. A maioria delas opera no setor de serviços, como varejo e transportes, que tendem a ter mais características regionais do que globais e abrem, com isso, mais opções no mercado latino-americano.

Outra característica é que as multilatinas, assim como as companhias com presença global, precisam de mais acesso a capital para financiar a expansão, mas tendem a elevar seu nível de endividamento porque enfrentam custo mais elevado e uma disponibilidade de capital mais limitada. O índice de endividamento das multilatinas é aproximadamente 40% maior do que empresas que atuam globalmente, enquanto as taxas de juros são 50% superiores, em média.

Mesmo com esse contexto, porém, a opção pela região ainda é relevante para empresas brasileiras porque a diversificação de mercados as expõe menos ao risco relacionado ao ambiente no Brasil hoje. De acordo com Aguilar, como o custo de capital é menor conforme o risco diminui, ter acesso a mercados financeiros diversos, ainda que regionalmente, é melhor do que se manter apenas exposto à economia doméstica, principalmente quando a empresa já tem liderança no país de origem e pode, por isso, ter mais vantagens em realizar parcerias e joint ventures no seu setor de atuação.

"Quando você expande geograficamente, você diminui o risco de concentração em um determinado país. No contexto político e econômico atual, a América Latina se torna uma oportunidade de melhorar a posição competitiva. O Brasil tem ativos baratos nesse momento e os grandes investidores acreditam que a crise não vai durar por muito tempo, mas ainda contam muito com estabilidade para decidir investir", analisa Anselmo Bonservizzi, sócio da Deloitte e líder da frente de consultoria em estratégia e operações no Brasil.

Bonservizzi pondera que, apesar do crescimento na região significar uma janela de oportunidade, essa alternativa não pode servir de remédio para um momento desfavorável no Brasil. Ele reforça que as empresas melhor posicionadas na América Latina são as que investiram nessa lógica em um horizonte de longo prazo.

"Os aspectos positivos desse movimento de longe superam as dificuldades e riscos de falhas, mas é importante ter estratégia consistente para garantir retorno", diz.