30/03/15 14h43

Inovação une MIT e indústria no país

Valor Econômico

Criar um polo fértil de pesquisa e desenvolvimento que resulte em importantes produtos, serviços e negócios, como acontece no Vale do Silício, na Califórnia, é o sonho de um grupo de indústrias presentes no Brasil. Para descobrir como dar um salto tecnológico dessa magnitude, o Senai assinou um convênio com o Massachusetts Institute of Technology (MIT), orçado em US$ 6,5 milhões. Uma equipe liderada por professores do MIT se reuniu com representantes da indústria brasileira pela primeira vez, na semana passada, para fazer um diagnóstico de como ocorre o processo de inovação no país e depois sugerir um novo modelo.

"Ouvimos as empresas por mais de duas horas. Muitas não tinham histórico de pesquisa, mas construíram laboratórios, falaram de problemas de colaboração com universidades", disse ao Valor o professor Michael Piore, do MIT. "Mas tem também a percepção de que a universidade mudou para melhor na última década." Segundo o professor, a indústria tem uma visão crítica em relação ao debate, mas ainda mostra otimismo sobre o processo de inovação.

O encontro com os representantes da indústria ocorreu depois que a equipe do MIT encerrou uma fase de reuniões com o governo, autarquias e pessoas ligadas à inovação. O trabalho foi iniciado em 2014 e terá duração de cinco anos. Na primeira etapa, a equipe dedicou-se a entender como o Brasil funciona em termos de inovação, de onde vem o fomento, quais setores industriais não atuam fortemente na área de pesquisa e propor como o Senai deve se inserir no processo, disse Marcelo Fabricio Prim, que ocupa interinamente a gerência-executiva da unidade de tecnologia e inovação do Senai.

As empresas que participaram do debate (Braskem, Embraer, GE, Samsung, Cristália, GranBio, IBM, Oxiteno e Natura) estão entre as que mais se destacam na preocupação com a inovação no Brasil, disse Prim. Ao todo são 103 empresas que participam da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), um fórum dentro da Confederação Nacional da Indústria e que elaborou uma agenda com a evolução do estado da inovação no país.

"Estamos focados em entender como o Brasil pensa em termos de inovação, como o setor privado se envolve em pesquisa básica aplicada e em inovação, e como esses institutos vão ajudar a acelerar a pesquisa e desenvolvimento no país", disse a professora Elizabeth B. Reynolds, líder do projeto e diretora-executiva do MIT Industrial Performance Center (IPC), de Boston.

Com uma equipe formada por professores e estudantes de pós-graduação, alguns dos pontos que o grupo estuda são as políticas governamentais, questões regulatórias e a formação de mão de obra. Aí estão algumas das barreiras à inovação citadas pela indústria. Entre as queixas, o regulamento para pesquisa e desenvolvimento, considerado rígido para uso e aplicação de recursos captados; o longo prazo para geração de patentes - média de 11 anos - e a fragilidade jurídica para resguardar segredos industriais durante processos de negociação entre empresas.

Há três anos, o Senai iniciou um investimento de R$ 3 bilhões em um projeto de inovação com duração de oito anos, cofinanciado pelo BNDES e com suporte da Sociedade Fraunhofer da Alemanha. Dos 87 institutos de inovação previstos, 26 já foram construídos. Para o professor Piore, os brasileiros veem o IPC como uma janela para o MIT. "E nós vemos esses institutos como uma janela para o sistema de inovação brasileiro, conforme ele emerge", disse.