22/12/15 12h02

Obra vai impulsionar uso de ferrovia no Porto de Santos

A Tribuna - Santos

A primeira fase da duplicação da linha férrea que liga as cidades de Campinas (SP) e Cubatão, e tem como objetivo aumentar a movimentação de cargas em trens entre o Interior do País e o Porto de Santos, será concluída nos próximos dias, ainda neste ano. Com isso, a expectativa é que, em dez anos, o modal responda por 40% das mercadorias que seguem em direção ao cais santista. Considerando apenas as commodities, a estimativa é chegar a 58%.

A obra é realizada pela concessionária ferroviária Rumo ALL, que surgiu a partir da fusão da operadora logística Rumo, do Grupo Cosan, e a concessionária ferroviária ALL. Terá 230 quilômetros de extensão, dos quais 190 estão praticamente duplicados. Um trecho de 40 quilômetros localizado na Serra do Mar foi concluído em 1993.

Os trabalhos foram iniciados em 2009 e vão custar R$ 730 milhões. As linhas férreas duplicadas cortam 16 cidades e contam com 2,2 quilômetros de obras de sustentação.

Cerca de 44 mil toneladas de trilhos foram utilizadas nos trabalhos, que contam com 33 novas pontes e viadutos, além de um túnel duplicado. As obras envolveram 1.800 funcionários diretos e indiretos.

Em 2010, as cargas transportadas em vagões entre o Interior do País e o Porto somaram 19 milhões de toneladas, 19,5% de tudo o que passou pelo cais santista no período. Já no ano passado, chegou a 27,5 milhões de toneladas, 24,7% das cargas. Com a duplicação, será possível ampliar esse índice em 15,3 pontos percentuais até 2025.

Em relação aos grãos, os trens respondem hoje por 42% do volume embarcado. Entre as operações de açúcar, são 30%. Em dez anos, a expectativa é que, para as duas cargas, essa fatia seja de 58%.

Esse aumento será necessário para os próximos anos, indicam especialistas, principalmente por conta da eficiência operacional do transporte ferroviário. Um vagão é capaz de levar de 80 a 100 toneladas de grãos, substituindo até quatro caminhões. Uma composição leva de 6,5 mil a 8 mil toneladas de mercadorias de uma só vez, retirando das estradas 320 veículos de carga.

“Em termos gerais, a gente fala de algo em torno de 35% a 40% de todas as cargas. Para açúcar e granel agrícola, a gente fala em 50% a 60% em 2025. No caso do contêiner, como são distâncias menores, a ferrovia ainda é bastante competitiva”, destaca o gerente-executivo da área de Projetos e Relações Corporativas da Rumo ALL, Rafael Agostino Langoni.

As expectativas da Rumo ALL, sobre a ampliação do transporte ferroviário de cargas, leva em consideração as projeções da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), a Autoridade Portuária, de aumento na movimentação de mercadorias nos próximos anos no Porto de Santos. Segundo a estatal, em 2024, cerca de 230 milhões de toneladas devem ser embarcadas ou desembarcadas no cais santista.

Reta final

Segundo Rafael Langoni, para a conclusão da primeira fase da obra ferroviária, falta apenas a duplicação de um trecho de 1,7 quilômetro na Vila Natal, entre Paratinga e Perequê, em Cubatão. O local está ocupado irregularmente por um estacionamento para caminhões e um ferro-velho, mas este problema será equacionado neste mês.

Os trechos que cortavam áreas indígenas e necessitavam de um licenciamento específico já foram liberados, segundo Langoni. Eles ficam entre Embu-Guaçu e Evangelista de Souza, no planalto, e Paratinga e Gladson de Moraes, em São Vicente.

O trecho da duplicação entre Cubatão e Valongo (na retroárea do Porto) já foi entregue. A intervenção envolveu uma parceria com a MRS Logística, concessionária responsável por essa parte da linha. Além de ampliação da via, houve construção de pontos e a instalação de dormentes, trilhos e sistemas de controle do tráfego de locomotivas – que permitem a troca de informações entre maquinista e o centro de controle de forma automatizada, oferecendo maior eficiência e segurança à operação.

Segurança

Para o gerente-executivo da Rumo-ALL, com a duplicação das linhas entre Campinas e Cubatão e a consequente ampliação da utilização do modal ferroviário, os usuários tem um transporte de carga de melhor qualidade, com um serviço de horários rígidos para a saída e a chegada das composições e uma maior segurança no deslocamento dos produtos.

“Há quem diga que o trem rouba o lugar do caminhão. Não é isso. Ele deixa de competir no mesmo tipo de serviço. O caminhão vai ser sempre necessário porque não há desvios ferroviários ponta a ponta (da porta do fabricante ou do produtor até a porta do consumidor). As viagens rodoviárias passam a ser uma ponta curta para alimentar esse sistema. Dá para falar em 230 mil viagens de caminhão a menos”, explicou Rafael Langoni.

O executivo também destaca outra vantagem do modal ferroviário: a redução do consumo de diesel e, consequentemente, da emissão de gases poluentes na atmosfera por tonelada transportada. “A economia de combustível é bastante significativa do ponto de vista ambiental, como você diminui o tempo de trânsito anda mais, o trem para menos. O consumo de diesel por tonelada movimentada caiu 13% de 2010 para 2015. A gente está falando em uma economia de 240 milhões de litros de diesel por ano”, relatou.