14/12/17 14h28

Parcerias com as startups aceleram o ciclo de inovação

Valor Econômico

A aproximação com startups alterou a rotina de inovação do Grupo São Francisco, companhia da área da saúde com sede em Ribeirão Preto, no interior paulista. Para apressar o passo na oferta de serviços digitais, o grupo ingressou no mundo das empresas de base tecnológica. "Elas têm um jeito diferente de pensar sobre os problemas do mercado. O contato inicial é um choque", afirma Carlos Braga, gerente médico de saúde preventiva.

De acordo com Braga, apesar de toda a tecnologia aplicada na saúde, em laboratórios e centros cirúrgicos, a forma de atender o paciente é praticamente a mesma há séculos. "É primordial encontramos formas mais eficientes de cuidar das pessoas, promovendo a saúde", defende.

No ano passado, em parceria com uma startup, o Grupo São Francisco desenvolveu o aplicativo BIO para monitorar a saúde a distância. Atualmente, 70 mil pacientes - de uma base de 1,1 milhão de vidas - utilizam o sistema. "É um assistente pessoal que lembra o paciente de tomar a medicação, interage com ele para avaliar os estados emocionais e físicos e ainda auxilia no agendamento de consultas", explica o médico. A solução utiliza recursos de inteligência artificial e análise de dados.

Para criar o serviço, o Grupo São Francisco investiu R$ 3,5 milhões. "O montante seria maior se tivéssemos de fazer sozinhos", diz Braga. Como resultado, o grupo monitorado registrou reduções no número de internações (-32%), nas consultas ambulatoriais (-23%) e nos atendimentos no pronto-socorro (-25%). "A partir da experiência com o BIO, criamos um laboratório de inovação e integramos as startups à nossa estratégia. Atualmente, tocamos cinco projetos em parceria com empresas iniciantes", afirma Braga.

Eduardo Cicconi, gerente do Supera, parque tecnológico de Ribeirão Preto, avalia a estratégia do Grupo São Francisco como tendência. "As empresas de médio e grande porte precisam entender que a inovação depende de um ecossistema. A parceria com startups é vantajosa."

Na oferta de serviços digitais, as startups são mais ágeis, têm uma forma diferente de entender e solucionar os problemas. "A visão de mercado é completamente diferente. Elas também são mais ousadas, sem medo de errar e recomeçar", diz.

"A inovação saiu dos laboratórios de pesquisa e desenvolvimento das empresas e migrou para o universo das startups", completa Guilherme Horn, diretor executivo e líder de inovação na Accenture.

No grupo das grandes companhias em busca de startups estão empresas dos setor financeiro e do varejo

Segundo Horn, é preciso estimular a conexão entre as demandas digitais das companhias e os projetos desenvolvidos pelas startups. A Accenture, por exemplo, criou um programa de relacionamento com empresas iniciantes de base tecnológica. "O objetivo é descobrir, desenvolver e auxiliar na aplicação dos projetos", diz Horn.

A base global da Accenture conta com 200 mil startups, 1,5 mil brasileiras. A equipe de inovação da consultoria atua como "olheira", em parques tecnológicos, hubs de empreendedorismo, coworking e outros ambientes frequentados por empresas nascentes. As startups também podem procurar a Accenture para apresentar seus projetos. "Depois de avaliar, passamos para a conexão das startups com o nosso grupo de clientes, formado por grandes empresas", diz.

O principal objetivo é o de permitir testes, provas de conceito e aplicação das tecnologias. "As grandes empresas selecionam os projetos e oferecem um ambiente real para testes, acelerando o desenvolvimento das soluções", explica. No grupo das grandes companhias em busca de startups estão, principalmente, empresas dos setores financeiro e varejo.

Horn esclarece que a Accenture não investe nas startups, nem oferece mentoria ou treinamento. "É um programa de conexão entre os projetos e o mercado."

Para as empresas tradicionais, a avaliação prévia reduz a rejeição ao novo e dá mais segurança para apostar em projetos inovadores. De acordo com Horn, a era das startups mudou também a estratégia das grandes consultorias. Há alguns anos, era comum ver empresas como IBM e Microsoft na lista de parceiros, agora há uma extensa rede de empresas de pequeno porte. "Ganhamos um repertório muito maior de soluções", diz ele.

Para Othon Almeida, sócio da Deloitte, as startups são capazes de renovar o ambiente de inovação das empresas. "Essas companhias são mais ágeis para acompanhar a transformação digital, entendem as mudanças nos modelos de negócios e sabem como aplicar tecnologia para prover serviços diferenciados", resume. Quebrar a barreira que as separa dos negócios tradicionais é, na visão do especialista, uma das funções dos gestores de inovação. "As startups são parceiras. É possível criar um relacionamento sem conflitos e com vantagens para todos", diz. Como exemplo, ele cita a aproximação dos bancos com a fintechs. "As instituições financeiras perceberam que o caminho está na colaboração, não na competição."

A Deloitte também está encorpando a lista de parcerias com startups. A consultoria mantém programa de seleção e homologação de empresas.