10/03/16 14h38

Scania triplica investimentos no Brasil

Valor Econômico

A Scania, que vinha investindo no país a um ritmo anual próximo de R$ 100 milhões, vai elevar os desembolsos para a faixa de R$ 300 milhões a R$ 400 milhões em 2016. A decisão pode parecer paradoxal num momento em que a indústria nacional de veículos comerciais atravessa, na opinião de alguns de seus dirigentes, a pior crise da história.

O objetivo final dos aportes, contudo, é modernizar a fábrica brasileira e, como consequência, dar flexibilidade para a operação local atacar mercados internacionais, diminuindo o impacto da recessão brasileira. Mesmo com a crise no país, o grupo sueco manteve a execução de projetos que tinham sido aprovados quando as montadoras viviam uma "fase dourada", como os R$ 96 milhões destinados a uma linha mais moderna de pintura e montagem de cabines, inaugurada há pouco mais de um ano.

Agora, os recursos são, em sua maior parte, direcionados à construção, iniciada em julho, de um novo setor de armação de cabines, uma área de alto nível de automação, o que exige, por exemplo, investimentos pesados em equipamentos empregados na soldagem das carrocerias. Os novos aportes abarcam ainda a nacionalização de motores que atendem à legislação de emissões europeia e, em parcela menor, um laboratório de testes e desenvolvimento de propulsores, a ser inaugurado no dia 26 de abril dentro de um orçamento estimado em R$ 32 milhões.

A montadora não dá detalhes dos demais projetos ou abre, na maioria dos casos, os investimentos previstos em cada um dos empreendimentos. "Vocês sabem como somos. Primeiro fazemos e depois falamos", disse Per-Olov Svedlund, presidente do grupo na América Latina, ao deixar claro que não anteciparia mais informações em entrevista concedida ao Valor na sede da companhia em São Bernardo do Campo.

O foco dos investimentos tem sido equiparar o parque industrial no ABC paulista ao padrão tecnológico das operações mais modernas da Scania no mundo. A ideia é fazer da unidade um "espelho" das estruturas existentes na fábrica da matriz na Suécia. Com isso, a Scania ganha condições de montar no Brasil caminhões e ônibus comparáveis aos fabricados no exterior e torna-se capaz de atender qualquer um dos mercados explorados pelo grupo, inclusive os mais exigentes. O melhor exemplo é a Europa, para onde a fábrica de São Bernardo começará a embarcar veículos quando tiver os chamados motores Euro 6, que cumprem com as regras de emissões do Velho Continente.

Ao fazer do país mais uma plataforma de exportações do que uma operação dedicada ao consumo interno - pelo menos, no momento -, a estratégia, apoiada pelo câmbio mais favorável a exportadores, já vem ajudando a montadora a atenuar os efeitos da recessão doméstica. Dos 21,5% em 2013, melhor ano da marca em vendas no Brasil, a parcela da produção dedicada a exportações beirou os 60% em 2015 e, na programação da fabricante, chegará a 70% neste ano. No ano passado, a Scania faturou quase US$ 760 milhões com exportações a partir do Brasil, atrás apenas da Mercedes-Benz (US$ 775 milhões) entre as montadoras de veículos comerciais pesados que mais ganharam com vendas externas. Neste ano, caminhões brasileiros da marca desembarcaram na Índia e na Malásia.

Embora os projetos que estavam à espera de execução tenham sido preservados, Svedlund diz que a montadora está reavaliando planos para os próximos cinco anos. "Somos otimistas, mas ao mesmo tempo somos realistas. Provavelmente, vamos postegar alguns investimentos", diz o executivo, citando aquisições de mais maquinário e o lançamento de novas versões de veículos entre os planos que estão sendo repensados.

Depois de cair, em 2015, ao menor patamar em doze anos, as vendas de caminhões no Brasil iniciaram 2016 mostrando queda de 35,5% no primeiro bimestre. A recessão econômica e a falta de confiança de transportadoras para investir na renovação de frota são, junto com a seletividade bancária na liberação de crédito, os motivos citados por representantes desse setor ao explicar o desempenho.