10/10/16 15h04

Startups de finanças e comércio atraem capital a emergentes

Valor Econômico

Novas oportunidades de investimentos estão surgindo nos mercados emergentes.

Investidores individuais interessados em apostar em mercados emergentes como China, Brasil e Índia costumavam se concentrar num grupo limitado de empresas que são líderes de mercado nos setores de commodities, finanças e telecomunicações. A ideia era que somente umas poucas empresas poderiam resistir às turbulências econômicas e políticas desses mercados.

Mas os mercados emergentes estão se tornando mais competitivos, graças, em parte, ao crescimento de uma classe média mais jovem e mais abastada. Durante os últimos 20 anos, a média do produto interno bruto das economias dos mercados emergentes triplicou, para cerca de US$ 9 mil per capita. Essa nova riqueza, combinada com o uso crescente de smartphones, acirrou a briga por clientes com dinheiro para gastar e administrar e alterou os gostos do consumidor.

"Há uma ideia nos mercados emergentes de que precisávamos das [empresas tradicionais de telecomunicações e finanças] para reformular a ordem comercial e financeira na economia digital", diz Gerardo Rodriguez, gestor de portfólio do fundo BlackRock Total Emerging Markets (BEEAX). "Mas, como nos Estados Unidos, as pessoas estão começando a perceber que a revolução só pode acontecer através de uma inovação disruptiva originada por empresas novas."

"O que estamos vendo agora [nos mercados emergentes] é apenas o começo de uma grande onda de adoção de novas maneiras de comprar coisas on-line e fornecer serviços e produtos financeiros", diz Rodriguez.

As populações dos mercados emergentes já vinham há anos se tornando mais ricas e mais conectadas. Mas o que está mudando agora é que jovens em países como Índia, Quênia e Argentina estão abrindo suas próprias empresas.

"Em muitos casos, há um empreendedor local que decide que ele ou ela quer abrir uma empresa de comércio eletrônico, vai para uma escola nos EUA e, aí, cria laços com o dinheiro do Vale do Silício e da Ivy League" (o grupo de elite das universidades americanas), diz Kevin Carter, fundador da Big Three Capital, firma canadense que investe em "startups", e presidente do comitê de índices do Emerging Markets Internet & Ecommerce (EMQQ), um fundo com ações negociadas em bolsa (ETF) que procura explorar o crescimento do comércio eletrônico e da tecnologia aplicada às finanças - uma área chamada de "fintech" - nos mercados emergentes.

Um exemplo é Marcos Galperin, diretor-presidente do MercadoLibre, uma plataforma de comércio na internet que opera sob o nome de MercadoLivre no Brasil e é frequentemente chamada de a Amazon.com da América Latina. Galperin fez um mestrado na Universidade de Stanford, na Califórnia, antes de criar a empresa. O MercadoLibre fez uma parceria estratégica com a americana eBay, que ficou com uma participação de 19,5% na empresa.

Empresas de comércio eletrônico como o MercadoLibre, na América Latina, e o Alibaba Group Holding Ltd., na China, fornecem plataformas para ajudar empreendedores locais a abrir suas próprias firmas, que com frequência recebem financiamento de gigantes locais ou até mesmo das próprias firmas de comércio eletrônico. Carter, do EMQQ, diz que o fundo investe em grandes empresas, como o Alibaba, que, por sua vez, já investiram em firmas locais de vendas on-line e tecnologia de finanças, a maioria de capital fechado.

Karan Sharma, membro do conselho de administração da empresa de serviços financeiros Avendus Capital, sediada em Mumbai, diz que o crescimento do comércio eletrônico e da tecnologia de finanças e o surgimento de startups nesses setores "vêm sendo bastante alimentados por uma necessidade não atendida". Hoje, os jovens dos mercados emergentes esperam poder usar seus telefones para reservar um trem ou um hotel e comprar roupas ou quase tudo que precisam. E cada vez mais eles também esperam ser capazes de administrar suas finanças a qualquer hora.

Mercados de produtos financeiros on-line estão ganhando impulso, diz Sharma, "à medida que surgem canais digitais mais transparentes, fáceis de usar para o cliente e eficientes, em termos de custo, para a distribuição de produtos de seguros, de investimentos e bancários". Igualmente, diz, empresas inovadoras da área de tecnologia de finanças estão ampliando o setor de empréstimos ao consumidor.

É verdade que essas startups se deparam com desafios enormes em todos os mercados e que, no caso da tecnologia de finanças, ainda há muitas incertezas sobre como a regulação pode afetar o crescimento das empresas. Mas já ficou claro que os mercados emergentes não se resumem mais a somente um grupo pequeno de grandes empresas estabelecidas.