27/01/16 13h43

Brasil aprende medidas anticrise com EUA

Valor Econômico

O governo brasileiro deverá receber uma lista de políticas que foram adotadas pelos Estados Unidos para promover o comércio, após a crise financeira de 2008, para auxiliar as empresas locais a desenvolver suas atividades na superação da atual recessão no Brasil.

Os secretários de Comércio dos dois países - o americano Kenneth Hyatt, do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, e Marcelo Maia, do Ministério do Desenvolvimento - iniciaram uma parceria para facilitar a atividade empresarial entre os dois países.

Eles tiveram uma reunião bilateral, na semana passada, em Nova York, durante uma feira internacional do varejo, na qual discutiram mecanismos de equalização de procedimentos capazes de ampliar ainda mais as trocas comerciais entre os dois países. O governo americano se dispôs a trocar experiências sobre as medidas que foram adotadas, após 2008, durante a crise financeira, de modo a dar subsídios para o Brasil.

"Eles têm um programa de internacionalização das empresas americanas e nós vamos levar isso para dentro de casa. Vamos pensar como aplicar isso no Brasil e ver quais as políticas necessárias para apoiar os varejistas brasileiros a se internacionalizar", disse Maia, após o encontro com Hyatt.

De acordo com o secretário brasileiro, os americanos fizeram uma campanha para reativar o comércio, após a crise iniciada em setembro de 2008, trabalhando as possibilidades de aumentos nas vendas Estado por Estado. "Eles foram desde o sujeito que tinha uma lojinha no interior do Arizona, para mostrar a importância dele no sentido de manter a atividade econômica, até as grandes redes. Isso foi importante para a população dar relevância para o comércio e continuar a consumir", disse Maia. "Agora, nós queremos ouvi-los para ver quais ferramentas poderemos usar para manter o setor ativo", disse, referindo-se ao varejo.

Hyatt afirmou que uma das principais medidas para facilitar a atividade comercial das empresas americanas após a crise de 2008 foi a de reunir informações para que elas pudessem ter acesso mais facilitado às oportunidades de negócios. Segundo ele, o Departamento de Comércio procurou promover as exportações americanas, desenvolvendo uma série de programas de aproximação com Estados, cidades e organizações de desenvolvimento econômico locais para auxiliá-los a verificar para quem poderiam vender e ampliar o alcance de seus mercados.

"Aprendemos que as companhias precisam de informações sobre oportunidades e desafios no mercado externo, então, fornecemos dados para elas. As companhias que obtêm mais informações sobre onde podem fechar negócios sabem onde é mais fácil e mais difícil atuar", disse o americano.

"Nós também aumentamos os nossos esforços no investimento direto estrangeiro formal", continuou o subsecretário. Foi criada uma organização chamada "Select USA" com a missão de atrair negócios e comunicar que os Estados Unidos são um mercado atrativo para o comércio. Também foram implementadas medidas para reduzir o custo de movimento entre as fronteiras. "Na última década, adotamos várias medidas para aperfeiçoar a economia e melhorar o crescimento."

O secretário de Comércio americano acredita que há potencial para aumentar o comércio com o Brasil. "O Brasil é a sétima maior economia mundial, mas é o nono parceiro comercial dos EUA. Há muito o que fazer e muito potencial para crescimento tanto no comércio quanto no investimento."

Hyatt definiu quatro prioridades no diálogo comercial com o Brasil. A primeira é a transparência regulatória. "Estamos trabalhando juntos para institucionalizar boas práticas regulatórias que tragam mais transparência. É importante para as companhias compreenderem o processo regulatório", disse, referindo-se às empresas que procuram vender para o Brasil e também para os Estados Unidos.

A segunda é alinhar os padrões de acesso aos mercados pelas companhias de um país ao outro. De acordo com o secretário americano, essa tarefa é importante para reduzir as barreiras à entrada.

A terceira área é a associação comercial. "Nós temos um memorando de entendimento sobre isso e estamos nos focando em construir capacidade para pequenas e médias empresas", disse Hyatt.

Por fim, há a promoção de investimentos diretos. "Vamos ver o que cada um pode fazer para promover mais investimentos", afirmou, destacando a realização de "road shows" para promover a atuação das empresas dos EUA no Brasil. "Os Estados Unidos têm uma base de comércio histórica muito forte com o Brasil", ressaltou Hyatt.

"O Brasil e os EUA são os maiores mercados consumidores nas Américas", disse Maia. Na avaliação dele, como são "países de dimensão continental e diversidade cultural enorme", eles acabam focando muito a atenção para o mercado interno e, depois, miram as exportações. Por isso, há, segundo ele, a "necessidade muito forte" de promover o comércio bilateral.

Nessa missão, Maia disse que os dois países estão discutindo a harmonização de regras para o comércio eletrônico, o setor de remessas expressas, a cadeia refrigerada do varejo e até para a prestação de serviços profissionais. Hoje, por exemplo, o Brasil não tem regras específicas para companhias estrangeiras que queiram entrar no país na chamada "cadeia do frio" - o segmento de logística e distribuição de produtos refrigerados, como alimentos e vacinas.

Também é preciso harmonizar as regras com os americanos para o segmento de remessas expressas - envio de produtos por companhias de entrega e de comércio eletrônico - e na prestação de serviços profissionais, na qual conselhos regulamentam a prestação de atividades por brasileiros e costumam limitar a atuação de estrangeiros.

"No setor de serviços, os EUA medem as transações de maneira diferente da nossa e queremos equalizar essa situação", exemplificou. Naquele país, as companhias não têm obrigação de registrar as vendas, mas, no Brasil, há esse dever e o Sistema Integrado de Comércio Exterior de Serviços (Siscoserv) acaba funcionando para prover estatísticas para mensurar o mercado na exportação e importação de serviços.

"O sistema ajuda, porque antes não conseguíamos ver quais os principais serviços oferecidos a eles", disse Maia. De acordo com o secretário, esse é outro tema em discussão na agenda entre o Ministério do Desenvolvimento brasileiro e o Departamento de Comércio dos Estados Unidos.

A aproximação comercial entre o Brasil e os Estados Unidos foi descrita como "multissetorial" por Hyatt. "Há uma diversidade nas nossas economias que cria muitas oportunidades e vamos trabalhar com muitos setores", definiu.

Segundo o secretário americano, há várias áreas que podem ser desenvolvidas, como energia renovável e aparelhos médicos. No setor de serviços, por exemplo, há várias áreas em que pode haver aperfeiçoamentos, como o comércio eletrônico. "Estamos trocando dados, mapeando as dificuldades do setor e trocando informações sobre políticas públicas para apoiá-lo", disse Hyatt.