19/03/12 14h45

A indústria que vai crescer

Isto É Dinheiro

Os índices negativos do início do ano escondem um processo de retomada da produção, que deve culminar com um desempenho mais robusto em 2012.

Existe uma metáfora clássica utilizada pelos economistas para ironizar a média aritmética calculada a partir de diversos dados econômicos. “Se uma pessoa está com a cabeça no forno e o pé na geladeira, sua temperatura, na média, é boa. Mas, na prática, ela está morta.” No caso da indústria brasileira, a tal média dos indicadores setoriais pode transmitir a sensação de um quadro morto, mas a verdade não é bem essa. Segundo o IBGE, a produção industrial, registrou retração média de 0,5%, entre os meses de novembro de 2011 e janeiro deste ano. Dezesseis dos 27 setores pesquisados, porém, apresentaram resultados positivos.
 
Em outras palavras: ao contrário do que a média dos números possa indicar, existe uma parte da indústria que não está olhando pelo retrovisor, e procura avançar, aproveitando a combinação entre ganho de renda, multiplicação do crédito e juros em queda. “Estamos no País, onde todo mundo gostaria de estar”, diz Gábor Deák, presidente da Delphi Autopeças, de São Paulo, que faturou US$ 1,2 bilhão, em  2011 e prevê um crescimento real de 3% a 4% neste ano. Deák lembra que os pedidos das montadoras para este mês já estão “substancialmente melhores” que os do primeiro bimestre, lembrando os melhores meses de 2011. 
 
A expectativa positiva para o setor automotivo atenua os números preocupantes de janeiro, quando as montadoras tiveram uma queda de 30,7% na produção em relação a dezembro, um dado que aumentou ainda mais o azedume dos pessimistas de plantão. O recuo, porém, teve como fonte uma parada estratégica das fábricas para adaptar-se à mudança de motores dos caminhões, que passam a adotar uma tecnologia menos poluente a partir do próximo mês. O banco Mercedes-Benz também captou essa tendência de melhora do setor em fevereiro, quando os pedidos de financiamento para a compra de automóveis, caminhões e ônibus registraram uma alta de 45%.
 
Na média, porém, o banco reserva um “otimismo moderado”, segundo o diretor comercial Angel Martinez. “Os caminhões com a nova tecnologia sairão de fábrica mais caros, o que deve impactar no resultado das vendas”, diz Martinez. Empresas de cosméticos e alimentos, por outro lado, riscaram a palavra moderação de seu dicionário para traçar os planos de negócios de 2012. Os dois setores devem se beneficiar da alta da renda, principalmente com o aumento de 14,13% do salário mínimo neste ano. Para se posicionar devidamente, o grupo paranaense Boticário, que cresceu 20% em 2011, está investindo R$ 355 milhões em uma nova fábrica de cosméticos e num centro de distribuição na Bahia, que devem entrar em operação no ano que vem. 

“Estamos otimistas com o País”, diz Artur Grynbaum, presidente do Boticário. A mineira Forno de Minas, que tem no pão de queijo seu carro-chefe, também não esconde o otimismo e aposta num crescimento de 45% do faturamento, chegando a R$ 160 milhões neste ano. “Nosso foco é o Nordeste”, afirma Helder Mendonça, presidente da Forno de Minas. “Queremos triplicar para 15% o peso da região em nossas receitas.” Os Estados nordestinos são os que mais devem se beneficiar da alta do salário mínimo. Segundo a consultoria LCA, 22% da renda nacional é influenciada pelo aumento de 14,13%. No Nordeste, essa alta mexe com o bolso de 40% da população local.
 
Na terça-feira 13, uma pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostrou que metade dos 22 setores estudados expandiu o quadro de funcionários no mês passado. O setor de alimentos é um deles. Mas para impulsionar a indústria como um todo, o ganho de renda precisa ser combinado com políticas muito mais complexas. O grande mercado consumidor brasileiro atrai uma invasão de importados e tem levado o governo a adotar medidas para estimular as empresas mais sensíveis a essa concorrência. Na quinta-feira 15, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se reuniu, em Brasília com representantes dos setores têxtil, moveleiro, aeroespacial e de autopeças, oportunidade em que sinalizou uma desoneração da folha de pagamento, a exemplo do que foi feito para empresas de tecnologia e calçados no plano Brasil Maior, lançado no ano passado. 
 
A ideia inicial é cobrar uma alíquota de 1,5% sobre o faturamento das companhias em vez dos 20% descontados dos salários e destinados ao INSS. “Isso dará mais competitividade para a indústria e vai desonerar totalmente a exportação brasileira”, disse Mantega, ao sair da reunião. No caso de exportadores, a alíquota pode chegar a 1% ou mesmo zerar, segundo o ministro. Outra medida que está sendo reivindicada pela indústria de eletroeletrônicos é a extensão da redução do IPI para a linha branca, em vigor desde dezembro, e que deveria acabar neste mês. Os fabricantes de geladeiras, fogões e tanquinhos comemoram um crescimento entre 10% e 15%, neste primeiro trimestre, após ficarem no zero a zero em 2011. 
 
Os empresários tentam convencer Mantega de que a prorrogação pode significar a admissão  definitiva de um número maior de trabalhadores. “Desde dezembro, as empresas fizeram duas mil contratações temporárias”, diz Lourival Kiçula, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Eletroeletrônicos (Eletros). “A prorrogação do IPI menor viria na hora certa.” No mesmo sentido, o estímulo aos exportadores também seria oportuno, num momento em que as turbulências externas parecem menos assustadoras. “Não podemos esquecer que o segundo semestre do ano passado foi tão ou mais complicado que 2008”, diz Marcos Troyjo, consultor do Instituto Millenium. 
 
Foi nessa época que a crise europeia ficou mais aguda e o mundo se viu à beira de um abismo novamente. “Hoje, a situação é bem diferente, com a recuperação nos Estados Unidos e com a renegociação em curso na Europa.” Uma das empresas que confirmam a temperatura mais amena no Exterior é a Embraer. A companhia de São José dos Campos prevê uma expansão moderada neste ano. “Considerando um crescimento mais acelerado na área de Defesa e Segurança, e mercados estáveis na Aviação Executiva e na Aviação Comercial, a empresa espera que suas receitas possam ter um pequeno crescimento em 2012”, informou a Embraer em reunião com investidores, no mês passado.