11/12/14 13h46

ABB aposta em eólicas e petróleo

Valor Econômico

O baixo crescimento da economia e as dificuldades enfrentadas pelo setor elétrico nos últimos anos não diminuíram o apetite da suíça ABB pelo Brasil. A fabricante de equipamentos, principalmente para redes elétricas, aposta no setor de petróleo e gás e de energias renováveis para expandir a receita no país, afirma Greg Scheu, membro do comitê executivo da matriz que assumirá a gestão da região das Américas no próximo mês.

"Ao olharmos para o tamanho do mercado e o potencial dos investimentos em infraestrutura, acreditamos fortemente no crescimento por aqui", disse o executivo ao Valor. Segundo ele, a estratégia para enfrentar o cenário mais adverso é ganhar participação de mercado e crescer a taxas superiores às do setor no país.

A nomeação de Scheu faz parte do novo plano da ABB, que tem como meta aumentar as receitas em âmbito mundial entre 4% e 7% ao ano até 2020. Nesse contexto, a divisão por mercados foi modificada, com extinção da divisão da América do Sul, que passou a integrar o bloco que conta também com Estados Unidos e Canadá.

A companhia não abre projeções e nem o faturamento no Brasil, mas o desempenho recente mostra que o país tem papel relevante. Em 2013, a receita líquida da divisão Américas cresceu 13%, acima da taxa geral do grupo, de 6%. A expansão ficou "na casa dos dois dígitos" para os três principais mercados da região, incluindo o Brasil, segundo relatório anual para investidores.

Os investimentos no país também corroboram essa percepção. Uma fábrica em Sorocaba, inaugurada em setembro de 2013, com 125 mil m2, está "plenamente operacional" e já está em curso uma expansão de outros 3 mil m2 para a produção de "eletrocentros", salas para controle de equipamentos e voltadas para ampliar a eficiência em processos industriais.

A unidade faz parte dos aportes de US$ 200 milhões previstos para o período de 2011 e 2015 no país e tem como intuito atender a demanda local e requisitos de conteúdo nacional de boa parte dos projetos de infraestrutura no país. Essa é a quinta fábrica da ABB no Brasil, que tem duas unidades em Guarulhos e uma em Osasco, ambas em São Paulo, e outra em Blumenau (SC).

De acordo com Scheu, o avanço de energias renováveis, em especial a eólica, tem sido "um dos principais impulsos" para os negócios da companhia. "Como essas fontes [alternativas] são intermitentes, há necessidade crescente por tecnologias para estabilizar o modo como esse tipo interage como o sistema e estamos muito envolvidos em soluções como essas."

O grupo não descarta a possibilidade de desenvolver produtos para energia solar, que teve seu primeiro leilão bem sucedido há pouco mais de um mês, com a venda de 1 GW em projetos com entrega a partir de 2017. "Estamos acompanhando e estudando esse segmento e, se julgarmos importante, podemos tomar alguma decisão nesse sentido", afirma.

O avanço das energias renováveis tem compensado a queda na demanda pelas companhias de energia por serviços de manutenção, em meio à crise que atinge o setor, disse o presidente da ABB Brasil, Rafael Paniagua. "Obviamente, fomos afetados pelo cenário [ruim para o setor elétrico], porque as companhias estão segurando seus orçamentos. Dito isso, e olhando para o lado positivo, nos últimos 18 a 24 meses, os leilões de transmissão e geração continuaram e vemos grandes oportunidades nesse sentido", afirmou.

A estiagem e a escassez de oferta de energia também trouxeram oportunidades para o grupo. Segundo Paniagua, é sensível o aumento da procura de segmentos eletrointensivos por soluções para aumentar a eficiência dos processos e reduzir perdas. "Com energia limitada e condições econômicas mais complicadas, diversas companhias se aproximam em busca de serviços para operar equipamentos de forma eficiente."

Como exemplo, o presidente cita o contrato de US$ 103 milhões fechado com a Vale em

setembro para fornecer sistemas elétricos e de automação para expansão de capacidade da mina de Carajás. As subestações que serão fornecidas para a mineradora estão sendo construídas em Sorocaba e devem ser entregues a partir de 2016.

A indústria de petróleo e gás é outro setor relevante para a ABB, avalia Scheu. A companhia atua em todos os níveis da cadeia de produção e tem contrato, de US$ 160 milhões, para equipar sete navios construídos pelo estaleiro Jurong Aracruz, no Espírito Santo.

De acordo com Scheu, os problemas recentes enfrentados pela Petrobras, com denúncias de corrupção e endividamento elevado, não preocupam. "No curto prazo, pode haver alguns atrasos e gargalos, mas estamos interessados em olhar além disso. No médio prazo, a intenção do país é dobrar a produção [de petróleo] e os investimentos terão de ser realizados. Estamos nos preparando para eles."