06/04/15 13h32

Airbus mira Brasil no longo prazo

Valor Econômico

Em novembro de 2013, baseada numa previsão de que o Brasil cresceria 4% ao ano em média, a Airbus previa uma forte expansão do mercado doméstico de aviação civil num horizonte de aproximadamente 20 anos. De lá para cá, o cenário deteriorou-se. Mas o diretor-geral de Estratégia e Area Internacional do Airbus Groupe, Marwan Lahoud, não está preocupado com a atual conjuntura política e econômica do Brasil. Para ele, os fundamentos da economia brasileira são bons e ajustes podem levar o país de volta à rota de crescimento. O executivo, no entanto, alertou para o risco de a atual situação de imprevisibilidade orçamentária do governo federal prejudicar os planos de companhias que pretendem investir no Brasil ou vender para as Forças Armadas.

Presidente da associação francesa de indústrias aeronáuticas e espaciais (Gifas, na sigla em francês), Lahoud esteve recentemente no Brasil acompanhado de 90 empresários do setor de defesa para promover uma aproximação entre os dois países.

Em entrevista exclusiva ao Valor PRO, o serviço de informações em tempo real do Valor, o diretor da Airbus não falou sobre suas expectativas específicas a respeito dos negócios da empresa no Brasil, mas manteve a projeção de ver a companhia crescer cerca de 10% na América Latina nos próximos cinco anos.

"Os fundamentos da economia brasileira são bons. Mesmo que haja uma recessão, será um acidente. Não uma tendência", afirmou. "Mas há uma situação fiscal e orçamentária que não está facilitando a cooperação. Não que a indústria esteja esperando por subsídios públicos. Mas é simplesmente que, quando você entra num caminho, tem um contrato e um plano que supostamente tem de ser financiado de uma forma e há perturbações no funding, há uma perturbação no plano. A vontade de investir no Brasil está intacta porque faz sentido investir no Brasil, mas há uma perturbação."

O diretor da Airbus, controladora da fabricante de helicópteros Helibras, lembrou ainda que restrições fiscais também representam desafios a quem mantém negócios com as Forças Armadas. "O que a indústria mais odeia, especialmente a aeroespacial porque é de longo prazo, é instabilidade. Nós precisamos de estabilidade", sublinhou. "Estabilidade significa apenas você dizer o que faz e fazer o que diz. Nada mais que isso. Estou confiante. Acredito que essas situações acontecem em todo lugar, acontecem nos Estados Unidos e na Europa Ocidental. Não é nada específico do Brasil, mas gostaríamos de ver essas perturbações indo embora."

Segundo ele, a Airbus quer replicar no Brasil o modelo implementado na Helibras, "uma empresa brasileira, apesar de pertencer ao Grupo Airbus, com uma unidade completa de fabricação e capacidade de fornecer ao mercado regional. Lahoud não informou onde poderia instalar novas unidades no Brasil ou o investimento potencial desse movimento, mas indicou que isso tenderia a ocorrer onde a companhia já atua - onde opera a Helibras ou ao redor de suas unidades de manutenção.

"As áreas futuras de cooperação são relativas a segurança", disse, complementando que "segurança" é mais amplo que "defesa", pois inclui o controle de fronteiras, área espacial, de monitoramento e equipamentos de inteligência que propiciem tomada de decisões pelo governo. "É normal que, como potência regional, o Brasil aspire aumentar de forma significante sua pegada na área espacial."

No segmento de aviação civil comercial, Lahoud considerou bastante satisfatória a posição da Airbus no mercado latino-americano. A Latam, frisou, é a maior operadora Airbus do mundo. E a população brasileira cresce e está cada vez mais educada e capacitada. Ele também demonstrou confiança de que o aeroporto de Guarulhos se torne um dos hubs interoceânicos a operar o gigante A380. "O momento comercial da aviação civil e do transporte aéreo está intacto porque a demanda por viagens aéreas está crescendo. Mas o que eu estou mirando é cooperação e instalação de indústrias no Brasil. E é isso que é perturbado não pela queda no crescimento da economia, uma redução de 4% para 2%", concluiu. "A questão é a situação orçamentária. Não porque precisamos do Orçamento para fazer algo, mas porque estávamos confiando em alguns investimentos públicos e eles estão atrasados."