30/11/11 14h28

Aquisições e muito investimento para ganhar mercado

Valor Econômico

Avaliado em R$ 13 bilhões em 2011 e crescendo bem acima do PIB nacional nos últimos anos, o mercado de refeições coletivas nunca foi tão cobiçado no Brasil. Embora promissor, o momento representa também um desafio para as 3 mil empresas do ramo, em especial as cem maiores, responsáveis por 90% das cerca de 11 milhões de refeições, que, estima-se, são servidas em restaurantes corporativos a cada dia no país. Para ocupar os novos filões e ampliar a participação nos segmentos em que já atuam as empresas capricham nas estratégias, que incluem especialização em nichos de mercado, ingresso no varejo e aquisição de concorrentes.

O momento, porém, pode ser mais favorável ao crescimento orgânico, apesar de a pulverização no setor ser alta e a concentração considerada ainda baixa - apenas três empresas abocanharam 42% de todo o faturamento de 2010. Antonio Guimarães, diretor executivo da Associação Nacional das Empresas de Refeições Coletivas (Aberc), não acredita que haverá novas aquisições no curto prazo. Para ele as empresas que optaram pela estratégia recentemente ainda estão "digerindo" as compras.

A transação mais recente e ruidosa desse tipo foi protagonizada pela multinacional francesa Sodexo, que em setembro teria adquirido 100% das ações da Puras por um valor estimado em R$ 1,2 bilhão, desbancado a GRSA, do grupo inglês Compass, da liderança do mercado nacional. Satya Menard, presidente da empresa resultante, a Sodexo / Puras, a quarta maior do grupo no mundo, no entanto, afirma que houve uma "união" com a empresa gaúcha, que lhe deu musculatura: "Temos agora um parceiro robusto em quase todos os estados". A Puras é forte no Sul, em Minas Gerais e Manaus e a Sodexo em São Paulo e no Rio de Janeiro.

A Sodexo quer se fortalecer nas várias regiões do país para enfrentar concorrentes regionais consolidados. Menard enfatiza que a companhia não é orientada à compra de concorrentes, mas sim a aquisições que possibilitem avanço na estratégia de crescimento: "Nossa proposta é ser cada vez mais global e ao mesmo tempo estar mais próximos de cada mercado. Daí a ênfase na regionalização". Consideradas as vendas das duas empresas, a companhia faturou R$ 2 bilhões em 2010 e prevê crescer entre 20% e 25% este ano, quando sua participação no mercado alcançará 20,5%, segundo a Aberc.

Para Guimarães, as empresas regionais de fato são bem consolidadas, e as multinacionais podem levar vantagem nesses mercados. Ele diz que as margens de lucratividade do setor são baixas e que, por isso, o maior poder de negociação das grandes companhias nas compras, por exemplo, pode ser decisivo: "A briga é feia".

Pouco antes da Sodexo, a paulista Nutrin atraiu os holofotes para suas aquisições - três, apenas em 2010: a gaúcha Pronutri (junho) o braço offshore da Elasa (que originou a Nutrinshore, em setembro) e a capixaba Bom Gosto (dezembro). Em dois anos, a Nutrin fez seis compras e chegou a anunciar a meta de alcançar faturamento de R$ 1 bilhão em 2015. Agora, segundo sua assessoria de imprensa, a empresa reavalia o mercado antes de definir os próximos passos.

Já a Cucinare até gostaria de adquirir alguma concorrente, segundo Carlos Alberto Costa, presidente da empresa, "mas não há oferta". No caminho inverso, porém, recebe com frequência propostas de compra. Antes da crise internacional, em 2008, as propostas vinham inclusive do exterior, de acordo com Costa. Estabelecida na região metropolitana de São Paulo, onde serve a maior parte de sua produção, de 45 mil refeições por dia (36% mais do que há três anos), a Cuccinare fatura R$ 60 milhões anuais: "Não temos interesse em vender", diz Costa.

Por parte da agora vice-líder no Brasil, a GRSA, as últimas aquisições demonstram interesse fortalecer a área de facilities no país. A última grande aquisição da companhia foi em 2007, quando comprou a VR, de cartões de benefícios, por R$ 1 bilhão.

As empresas também buscam se expandir por meio da diversificação. Ao aliar-se à Puras a Sodexo, por exemplo, se firmou nas plataformas offshore de petróleo, segmento em franca expansão no qual a gaúcha tem presença sólida. Já a carioca Spice Gourmet faz o foco em clientes que empregam mão de obra intensiva, o que significa preparar e servir vários milhares de refeições em curto espaço de tempo. "Nossos clientes demandam no mínimo mil refeições diárias", conta Sérgio Lopes, CEO da companhia, que serve atualmente cerca de 120 mil refeições por dia, depois de crescer 50% nos últimos três anos. Em 2011, a Spice Gourmet deve faturar R$ 70 milhões, R$ 30 milhões mais que em 2010. Para 2012, projeta R$ 150 milhões.

A estratégia de expansão da Sapore, terceira no ranking do setor - faturou no ano passado cerca de R$ 900 milhões e serviu aproximadamente 850 mil refeições - tem forte ênfase no atendimento e na inovação dos cardápios de acordo com Diogo Lombas, diretor executivo da companhia. A ideia é satisfazer ao máximo o consumidor final das refeições. E isso não remete apenas à quantidade de calorias e nutrientes.

A Sapore opera, por exemplo, os restaurantes de quase todas as montadores de automóveis, área em que a atividade sindical tem forte poder de barganha, "o que faz grande diferença", segundo Lombas, e também serve o staff das principais emissoras de TV, onde tem de agradar inclusive exigentes frequentadores dos restaurantes mais estrelados do país.

Redução de custos é outra estratégica fundamental à competitividade no setor. A Cuccinare otimiza custos ao usar a estrutura administrativa do grupo Raízes, que integra, e também se beneficia da atividade de outra controlada, a distribuidora de hortaliças frescas Pomar e Horta, que também atende a concorrência, segundo Costa.