09/05/18 12h22

BC abre laboratório de inovação com gigantes tecnológicas

Valor Econômico

O Banco Central (BC) lança nesta quarta-feira uma iniciativa para estimular o processo de inovação no sistema financeiro. Batizado de Lift, o Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas reúne além do BC, gigantes da tecnologia como Microsoft, IBM e Amazon Web Services, que vão prover o suporte necessário para o desenvolvimento dos projetos, sem custo aos interessados.

"Queremos observar tudo que estiver acontecendo em termos de inovação tecnológica. Queremos estar no nascedouro, participar, construir em conjunto. Ter um laboratório que nos permita identificar tendências disruptivas, que são tecnologias inovadoras que mudam o curso, algum paradigma do sistema financeiro", diz a diretora de Administração do BC, Carolina de Assis Barros.

A ideia do Lift, que é um trocadilho com o verbo inglês "to lift", é justamente elevar para outro patamar o processo de inovação. Carolina explica que há uma miríade de novas tecnologias surgindo rapidamente, como blockchain, inteligência artificial e open banking. De outro lado existe a esfera financeira que apresenta uma capacidade limitada para testar de forma rápida os riscos e oportunidades dessas inovações. "A ideia do laboratório é fazer uma intersecção entre esses dois mundos."
O BC se inspirou na experiência de outros bancos centrais para montar o seu projeto. O Banco da Inglaterra lançou em 2016 o "fintech accelerator" e já recebeu mais de 200 projetos de aplicações da tecnologia para o sistema financeiro. O Banco de Cingapura também tem iniciativa parecida.

A diferença, segundo Carolina, é que o BC está trazendo os grandes players de tecnologia para participarem, tornando a experiência não apenas uma discussão ou apresentação de casos, mas sim um laboratório de resultados práticos.
"Vai além de simplesmente apresentar a ideia. Você já vai para o protótipo e, nesse caso, trouxemos os grandes players de tecnologia, que são parte interessada, para participar do processo", diz a diretora.

Segundo o diretor de Tecnologia da Microsoft, Ronan Damasco, há um alinhamento muito grande entre os objetivos da empresa, de participar do processo de transformação digital de empresas e pessoas, com a iniciativa liderada pelo BC. "Temos uma missão que é muito conhecida de fazer empresas e pessoas a conquistarem mais", diz o executivo.

Segundo o chefe adjunto do Departamento de Tecnologia da Informação do BC, Aristides Cavalcante, com o lançamento do Lift será aberto um prazo para inscrição dos projetos, que serão avaliados por um comitê gestor, composto por especialistas do BC em diversas área. Os selecionados terão 90 dias para desenvolver e expor seu caso, contando com as tecnologias e suporte necessário das empresas parceiras.

A ideia é que o Lift tenha um funcionamento contínuo, com sucessivas chamadas para novas propostas. Caso algum projeto ganhe viabilidade comercial, a propriedade é do proponente. O BC pretende fazer uma campanha de divulgação durante a Campus Party, feira de inovação e tecnologia que acontecerá em Brasília no fim de maio.

"A ideia é termos um debate aberto. Mas ao invés de ser um debate teórico é uma conversa prática sobre inovação", diz Cavalcante, complementando que uma pequena dica do BC pode ser muito importante para as ideias que estão nascendo. "Temos interesse em boas ideias no sistema financeiro. O BC não está fechado a diálogo. O BC está querendo conversar abertamente."

Ainda de acordo com Damasco, o Lift terá um portal de acesso, onde pessoas e empresas vão submeter seus projetos até o dia 26 de junho. Em 26 de julho sai a lista dos projetos que serão executados. "Além de fornecemos a plataforma tecnológica, nuvem e produtos, gratuitamente, haverá monitoria e apoio técnico. Teremos um responsável que vai orquestrar os recursos para execução desse projeto com sucesso", diz Damasco.

As propostas poderão ser apresentadas por membros da academia, entidades de classe e demais interessados. Os projetos têm de guardar relação com um dos quatro pilares da Agenda BC Mais, que são: crédito mais barato, sistema financeiro mais eficiente, legislação mais moderna e cidadania financeira.

"Tudo tem risco e oportunidade. Às vezes, a pessoa que está desenvolvendo a ideia não está atenta a riscos que nós do BC estamos. E vice-versa, pois às vezes não estamos muito ligados nas oportunidades que esses inventivos estão enxergando", diz Carolina.

Segundo a diretora, a iniciativa contribui para um sistema financeiro mais eficiente e estável. "O BC se preocupa com a estabilidade do sistema financeiro e não tem como fazer isso se não estivermos bem próximos da sociedade. E esse processo de tentar compreender e compartilhar promove a estabilidade. E estabilidade financeira não está em imutabilidade, mas sim em se fazer as mudanças certas. E o Lift é parte desse processo", diz.

Ainda de acordo com Carolina, há uma mudança na postura do BC, que está mais aberto ao diálogo e à construção colaborativa. E o laboratório é uma forma bastante inteligente de estar no nascedouro das coisas, induzindo e orientando o processo, poupando tempo e recursos.

No fim de abril, o BC regulamentou dois modelos de fintechs de crédito, empresas que aliam tecnologia a serviços financeiro. A Sociedade de Crédito Direto (SCD) e a Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP). De acordo com o mapeamento mais recente da FintechLab, de novembro de 2017, havia 332 empresas atuantes no setor de empréstimos, seguros e validação de transações. E levantamento da Conexão Fintech mostrou que os investimentos nessas empresas somaram R$ 457,4 milhões ao longo do ano passado.