05/07/18 13h30

BNDES fecha modelo de crédito para MPME

Valor Econômico

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai entrar no "jogo" do mercado de crédito para micro, pequenas e médias empresas (MPME), participando diretamente do risco das operações ao lado de alguns agentes financeiros selecionados. Em um primeiro momento, essa operação de crédito compartilhado vai envolver três agências de desenvolvimento regional: Desenvolve SP, BDMG e BRDE.

O BNDES passará a correr 30% do risco de crédito nas operações com MPMEs, e os 70% restantes ficarão com os próprios agentes. Esse modelo de operação permitirá ao banco de fomento desenvolver a sua própria análise de risco para micro, pequenas e médias empresas, entendendo melhor como os agentes financeiros precificam os "spreads" para este segmento da economia.

A iniciativa do BNDES tem duplo objetivo: aumentar o acesso a crédito para micro, pequenas e médias empresas, e buscar a cobrança de um custo financeiro "adequado" nas operações, disse Carlos Alberto Vianna, chefe do departamento de relacionamento institucional da área de canais e operações digitais do BNDES. O banco olha o crédito para as MPMEs de maneira ampla, tanto para investimento quanto para capital de giro. Este é tradicionalmente um setor que tem mais dificuldade de acesso a crédito do que as grandes companhias, por exemplo.

"Nosso objetivo não é substituir os bancos de varejo, mas entender melhor as MPMEs para balizar melhor os spreads. Posso começar a perceber que está se cobrando um spread alto demais. Vou entender isso na prática", disse Ricardo Ramos, diretor da área de operações indiretas do BNDES, responsável pelo segmento de micro, pequenas e médias empresas. Hoje, de certa forma, é como se o BNDES ficasse "refém" dos agentes financeiros quando o tema é a avaliação de crédito dada a uma MPME. "Eles [os agentes] dizem: 'a inadimplência [das micro, pequenas e médias] está alta'. E eu: 'Tá bom'. Agora [a partir do crédito compartilhado] vou poder falar com o Sebrae [o serviço de apoio às micro e pequenas empresas], com o governo, a partir dos dados que eu vou ter. Posso ter modelos poderosos de análise e de risco de crédito, e posso balizar spreads em alguns nichos de crédito. Para uma indústria x, eu posso baixar o spread."

As operações de crédito compartilhado do BNDES para micro, pequenas e médias empresas devem começar em dezembro. Em outubro, o banco vai divulgar as regras para a operação. Haverá, inicialmente, um projeto-piloto envolvendo o BNDES e as três agências de desenvolvimento regionais: Desenvolve SP, BDMG e BRDE. Depois, a operação poderá ser ampliada para outros interessados. Nas operações de crédito para MPMEs, via repasses, o recurso será 100% do BNDES. O banco de fomento vai correr diretamente 30% do risco de crédito, com os restantes 70% ficando com o próprio agente. Hoje o banco repassador assume 100% do risco da operação e o BNDES faz a análise de risco do agente financeiro. O objetivo do banco é avançar na análise de risco em larga escala.

No novo formato, o BNDES espera aumentar o acesso a crédito às MPMEs, uma vez que sua participação direta no risco da operação permitirá "alavancar" o volume final de recursos financiados. Isso porque o agente repassador vai comprometer um limite menor do seu crédito com o banco de fomento. Em uma operação de R$ 1 bilhão, o agente comprometeria somente R$ 700 milhões, com os outros R$ 300 milhões sendo garantidos diretamente pelo BNDES.

O custo da transação será de Taxa de Longo Prazo (TLP), mais o spread básico do BNDES, entre 0,9% e 1,3% ao ano, mais o spread de risco. Se o spread de risco for de 5% ao ano, 70% desse valor irá para a tesouraria do agente financeiro e 30%, para o BNDES. Hoje o BNDES opera de forma direta com grandes e médias empresas, dando crédito de forma customizada. Para MPMEs, o banco opera com intermediação financeira, valendo-se de plataformas eletrônicas.

No total, o banco faz cerca de 500 operações por ano para grandes empresas e 600 mil para MPMEs. Desde 2017, o BNDES lançou novas iniciativas para micro, pequenas e médias, que de janeiro a maio deste ano responderam por 50,7% do desembolso do BNDES. Uma das ações é o Canal Desenvolvedor, plataforma eletrônica de serviços. O canal já fez 500 operações de crédito por R$ 200 milhões. Outra medida é o BNDES Online, ferramenta de operações entre o banco e os agentes (já há 20 instituições financeiras).

No futuro, o BNDES quer evoluir para um portal de negócios e operações, reunindo bancos e fintechs. O banco analisa parcerias com fintechs para ver o que essas empresas podem oferecer. Recentemente, fez teste com 20 fintechs. Uma delas, a SRM, analisa quase 25 mil empresas por dia. Marcos Mansur, sócio-diretor da SRM, disse que para fazer análise de crédito são usadas 55 fontes de informação mais o CNPJ da empresa. A avaliação de crédito é dada em três segundos pelo sistema da SRM, que trabalha com banco de dados e utiliza tecnologia de algoritmo. Para Mansur, é possível reduzir spread de risco, mas a queda depende do nível de inadimplência.