18/02/14 10h03

BNDES lança programa de R$ 1,4 bi para setor de cana

Projeto, que tem parceria com a Finep, fomentará o desenvolvimento de tecnologias como transgenia e etanol 2G

Brasil Econômico

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep) lançaram ontem o programa Paiss Agrícola, com foco no financiamento de projetos de inovação das empresas do setor sucroalcooleiro. Com orçamento de R$ 1,4 bilhão, o projeto visa a elevar a produtividade da cana-de-açúcar brasileira, fomentando a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias agrícolas, como a transgenia e o etanol de segunda geração (2G), produzido a partir do bagaço da cana. O Paiss Agrícola complementa o Paiss Industrial, lançado em março do ano passado e que tem como objetivo estimular a inovação industrial de usinas e destilarias. O programa atraiu 57 empresas, aprovou 35 planos de negócios e repassou R$ 2,5 bilhões em financiamentos.

“Entre 2002 e 2010, período de crescimento acelerado do setor sucroenergético, o custo médio da produção da cana-de-açúcar nacional era de US$ 15 por tonelada. Atualmente, o custo é de US$ 30. Comesse incentivo esperamos recuperar nossa eficiência e competitividade. Afinal, os custos agrícolas representam 60% do total da produção de etanol e açúcar”, afirma Elizabeth Farina, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

Segundo a executiva, algumas empresas do setor sucroalcooleiro têm adotado novas tecnologias, sem investir devidamente em pesquisa. “Um bom exemplo é o avanço da mecanização da colheita, para eliminar o uso da queimada nos canaviais. Ao longo de cinco anos adaptamos a cultura da cana às máquinas, quando o ideal teria de ser o contrário. Provavelmente levaremos outros cinco anos até encontrar soluções técnicas mais adequadas à nossa realidade produtiva”, diz, mencionando que a produtividade dos canaviais brasileiros atingiu em2007 a marca histórica de 11,2 mil quilos de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) por hectare, nível 130% acima do registrado em1975, ano de início do programa Proálcool, com média de crescimento anual de 3%. “Contudo, a performance agrícola dos últimos anos passou a apresentar reduções nas médias de produtividade, atingindo variação inferior a 1% de incremento anual na última década”, compara.

Elizabeth Farina diz que se o ganho anual de produtividade agrícola fosse ampliado de 1% para 3%, seria possível adicionar cerca de 12bilhõesde litros de etanol até o início da próxima década – um incremento de 40% na produção atual de álcool combustível.

“Como Paiss será possível desenvolver o cultivo de cana-de açúcar transgênica no país. Aliás, a cultura da cana será uma das últimas a introduzir a transgenia, que ainda vai desempenhar um papel muito importante no ganho de produtividade do setor”, afirmou Luciano Coutinho, presidente do BNDES. “Outra área que tende a crescer muito como novo programa é o etanol de segunda geração. Com ele há um potencial de se aumentar em até 45% os índices de produtividade atual”, completa.

Com taxa de juros de até 4%ao ano, quatro anos de carência e até 12 anos para pagar, o programa Paiss Agrícola vai atuar em cinco linhas temáticas. Dentre elas, incentivar o estudo e o cultivo de novas variedades de cana, inclusive a transgênica; estimular o uso da biotecnologia; financiar o desenvolvimento de técnicas de agricultura de precisão, traduzidas em máquinas e implementos especificamente criados para plantio, colheita, além de coletas de palha e de resíduos; e fomentar a adaptação de sistemas industriais para culturas energéticas compatíveis, complementares e consorciáveis com o sistema agroindustrial da cana.

“A inovação é um caminho a ser perseguido, mas é um caminho que envolve riscos. Com o Paiss Agrícola, esperamos diminuir as incertezas, assumindo o risco inflacionário do financiamento, pois todo spread das operações estão embutidos nas taxas anuais de juros negativos”, argumenta o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp.