07/10/10 12h15

Bônus da indústria ao varejo cresce 160%

Valor Econômico

A política de bonificações negociada entre indústria e varejo, em acordos comerciais que envolvem o pagamento de dinheiro às lojas, tem feito engordar o caixa das varejistas nos últimos anos. O volume chegou a mais que dobrar ao crescer quase 160% nos últimos cinco anos, segundo balanço financeiro das varejistas encaminhado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Esses montantes se referem aos bônus pagos pelos fornecedores para que as redes varejistas se movimentem e criem ações para vender mais produtos desses fabricantes nas lojas. É uma espécie de "incentivo comercial", como explicam as próprias varejistas em suas demonstrações financeiras. As partes definem metas e, se ela é atingida, a bonificação é liberada. A prática é legal e comum em mercados de consumo mais maduros, como Estados Unidos e Europa. No entanto, auditores da área dizem não há normas contábeis que regulem essas práticas no Brasil, de maneira a deixar mais claro a forma como elas contabilizam esses incentivos.Dados dos balanços semestrais deste ano das maiores varejistas de capital aberto do país mostram que chega a R$ 759 milhões (US$ 446,5 milhões) o valor que elas têm a receber, por conta de "afinidades ou parcerias comerciais", informam elas. O volume é mais que o dobro dos R$ 291,9 milhões (US$ 171,7 milhões) apurados em 2005. Nesse cálculo estão dados do Grupo Pão de Açúcar, Lojas Americanas e B2W (que inclui Submarino). Renner e Riachuelo não possuem negociações nesses moldes.Na outra ponta da cadeia, a fabricante Hypermarcas tem ampliado os seus desembolsos para esses incentivos. Em 2009, foram R$ 140,2 milhões (US$ 71,2 milhões) aplicados em verbas e acordos comerciais "que visam principalmente exposição adicional e divulgação de produtos junto aos consumidores". De janeiro a junho deste ano, a soma atingiu R$ 108,2 milhões (US$ 63,6 milhões), mais de 70% do montante total de 2009. A compra de novas empresas pela Hypermarcas ampliou esse volume, já que passou a ter que firmar mais acordos com o varejo. Em 2006, o primeiro ano com dado disponibilizado pela fabricante, o volume desembolsado em ações de parceria com as redes foi bem menor, de R$ 33 milhões (US$ 15,2 milhões).Na Lojas Americanas, rede com maior elevação nos valores, o volume de recebíveis proveniente dessas negociações cresceu mais de 1.200% entre 2005 e 2010. O grupo Pão de Açúcar apresentou estabilidade nesses montantes ao longo dos anos, girando em torno de R$ 250 milhões (US$ 147,1 milhões) a R$ 300 milhões (US$ 176,5 milhões) ao ano em recebíveis provenientes de acordos com fornecedores. São recursos que incluem, por exemplo, o pagamento de reembolsos se a empresa vender lotes de produtos a mais do que o acertado nos acordos de compra e venda. Batizado de "bonificação por volume", esse modelo é o mais comum no Brasil hoje.