08/03/13 13h00

Brasil é prioritário no plano estratégico da alemã Freudenberg

Valor Econômico

Casas do século XVI integralmente preservadas, a antiga vila, onde um dia estiveram os curtumes medievais, parques com árvores centenárias completam a paisagem. Elementos que convivem com trens de alta velocidade, rodovias modernas e parques industriais de ponta. A pequena cidade de Weinheim, no sul da Alemanha, tem muito em comum com o grupo de empresas que tem nela sua sede. A Freudenberg iniciou as atividades há mais de 150 anos e mantém como diretrizes fundamentais a tradição e a inovação. E agora enfrenta um novo desafio: reduzir sua dependência da Europa e crescer nos mercados emergentes.

O negócio, que começou com a fabricação de couro, expandiu para quatro divisões: componentes de vedação e controle de vibração, não tecidos, especialidades químicas e produtos de limpeza para o lar. Hoje, o grupo conta 170 fábricas, em 58 países e 37 mil funcionários. A atividade de curtume em si foi encerrada em 2002, após sucessivas quedas de lucratividade.

Em 2011, o faturamento foi de € 6 bilhões - os números de 2012 ainda serão divulgados. Porém, metade das vendas ainda está concentrada na Europa, mais de 30% só na Alemanha. Um problema em época de crise na região.

O ideal para a empresa seria ter um balanceamento entre Europa, Ásia e Américas, que pode ser conquistado em um espaço de até 15 anos, disse o presidente global do grupo, Mohsen Sohi, em entrevista ao Valor. "O Brasil é um mercado chave para a nossa estratégia no continente americano."

As Américas, atualmente, respondem por 25% do resultado do grupo. Só o Brasil tem sete fábricas e faturamento de € 300 milhões (5% do resultado global), com potencial de chegar a 10% na próxima década, estima Sohi. A Ásia tem participação de 16%, enquanto Austrália e África somadas não passam de 2%.

Normalmente, o grupo investe, por ano, entre€ 250 milhões e € 300 milhões. No ciclo administrativo que vai até 2016, a estratégia prevê um esforço especial de crescimento nos Brics, com menor atenção para a Rússia - incluída pelo grupo dentro de Europa.

Quanto ao crescimento de 0,9% do PIB brasileiro, divulgado pelo IBGE no início do mês, Sohi não escondeu a surpresa negativa. Contudo, disse que o desempenho fraco da economia não muda "de forma alguma" os planos da companhia para o país.
Para o mercado brasileiro, estão previstos investimentos da ordem de R$ 100 milhões. Quantia semelhante será empenhada na Índia e cerca de o dobro desse valor na China, informou Sohi.

De acordo com o presidente, neste primeiro ano do ciclo, foram investidos entre 25% e 30% do valor para o Brasil. Entre os principais destinos dos recursos, estão a ampliação de portfólio da maior empresa do grupo no país, a Freudenberg NOK, em Diadema. "Vamos duplicar ou até triplicar a gama de produtos, com potencial para atender mais setores, em especial petróleo e gás", disse Sohi. A unidade fabrica anéis de vedação de diferentes tamanhos e tecnologias. Assim como as outras divisões do grupo, seu principal cliente é a indústria automotiva e um dos objetivos principais é diversificar em setores atendidos.

O grupo investiu também cerca de R$ 10 milhões na compra de um terreno de 30 mil m2, em Valinhos (SP), e está definindo os detalhes do desenvolvimento desse ativo. O mais provável é que se destine a novas estruturas de produção para as empresas de lubrificantes, desmoldantes e outras especialidades químicas Chem Trend e Surtec, afirmou Juan Carlos Borchardt, representante do grupo para a América do Sul e para a África do Sul. As duas companhias têm atualmente unidades menores, respectivamente, em Valinhos e em São Bernardo do Campo (SP).

Um terceiro investimento importante, que segue uma orientação internacional do grupo, é a separação da fabricação de filtros da divisão de tecidos não tecidos (TNT). O TNT tem diversas aplicações, como componentes para a indústria têxtil e calçadista, insumos médicos e filtros. Um novo prédio será destinado apenas à produção dos filtros, na mesma área da atual fábrica, em Jacareí (SP), dando mais independência de negócios para a unidade de filtros e abrindo maior espaço para a fabricação dos não tecidos, que estava ficando atravancada, explicou Borchardt.

O grupo Freudenberg está atento, ainda, a oportunidades de aquisição. O perfil do grupo é conservador, não costuma se endividar nem fazer aquisições de porte muito grande. Contudo, estuda trazer para o Brasil a única das quatro unidades que ainda não está presente no país: produtos de limpeza para o lar.

Marcas do grupo, como Vileda, são líderes de mercado na Europa. A divisão tem produtos que vão de panos de limpeza com tecidos inteligentes a robôs aspiradores de pó. Na América do Sul, está presente na Argentina e Chile. Vir para o Brasil, no entanto, é um passo avaliado com cuidado. Há ponderações por ser um mercado consolidado por marcas que estão há décadas no país, além da questão de o quanto o brasileiro estaria disposto a pagar por produtos de maior qualidade. "Não vamos fazer esse movimento [de trazer a divisão de produtos para o lar] em 2013, mas é algo que certamente pode acontecer a partir de 2014", afirmou o presidente mundial.

Ao ritmo que os investimentos vem se concretizando no Brasil, a companhia poderá superar a marca de R$ 100 milhões até 2016, avaliou o presidente. "É bem capaz que precisemos mais do que esse valor", disse, no mesmo sentido, Borchardt, representante regional do grupo.