10/08/10 16h00

Brasil pode sediar fábrica de ácido acrílico

Valor Econômico – 10/08/10

Companhias químicas e petroquímicas voltaram a repensar seus projetos de construir fábrica de ácido acrílico no Brasil, considerando o atual cenário de preços altos e oferta escassa no país. Principal insumo voltado para a produção de tintas e fraldas descartáveis, essa matéria-prima é um produto 100% importado e extremamente estratégico para essas empresas. Ao Valor, a Basf informou que planeja erguer uma unidade produtora no Brasil e que já há estudos em análise. Há três anos, a companhia chegou a conversar com a Petrobras para formalizar uma parceria nesse projeto, mas as negociações não foram adiante.

A própria estatal tem planos de ter um polo de produção de ácido acrílico em Minas Gerais. A Petrobras não descarta procurar novamente parceiros, uma vez que o sócio poderá agregar em tecnologia. O projeto faz todo sentido para a petroleira, uma vez que a estatal pode aproveitar sua oferta de propeno (principal matéria-prima para a industrialização desse produto). Há alguns anos, a companhia chegou a conversar com a Dow Chemical, mas as tratativas também não avançaram. O Valor apurou que a Dow também analisa fazer investimentos nesse segmento. Procuradas, Dow e Petrobras não comentam o assunto.

Em 2007, o país importou 41,3 mil toneladas desse insumo (com gastos de US$ 47,2 milhões), a um preço médio de US$ 1.140 por tonelada. No ano seguinte, as compras saltaram para 48,370 mil toneladas (despesas de US$ 65,7 milhões), a um preço médico de US$ 1.360 a tonelada. No ano passado, as importações recuaram para 44,680 mil toneladas (US$ 44,7 milhões), a uma cotação média de US$ 1.000, segundo levantamento da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química). Neste ano, com a alta forte dos preços, a tonelada do produto está voltando aos patamares de 2008. Com demanda firme, as empresas começam a planejar ter produção local.

Os fabricantes de fraldas e tintas estão preocupados com a falta do insumo no mercado interno. Antônio Carlos Lacerda, vice-presidente de tintas para a América do Sul da Basf (dona da marca Suvinil) e diretor da Abrafati (Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas), acredita que a falta de matérias-primas importantes - como o ácido acrílico e o dióxido de titânio - podem comprometer o crescimento do setor. "Já está atrapalhando. O preço do ácido acrílico subiu muito nos últimos meses", afirmou Lacerda. "Vai faltar suprimento se houver qualquer soluço de aumento das vendas."

A Abrafati estima uma expansão do setor de tintas de cerca de 50% nos próximos cinco anos. Só no primeiro semestre deste ano, as vendas subiram 25% em relação os primeiros seis meses de 2009, quando houve um recuo significativo dos pedidos. Com a Copa do Mundo e Olimpíadas, estima-se que o mercado de construção receba um volume de recursos da ordem de R$ 300 (US$ 171,4) a R$ 400 milhões (US$ 228,6 milhões) e o segmento de tintas espera abocanhar uma fatia importante desse total. "Mas a falta de matéria-prima pode frear esse crescimento."

Nos últimos seis meses, os preços do insumo chegaram a subir entre 30% e 35%, segundo as principais empresas consumidores desse produto. "No passado, muitas empresas tentaram estimular a produção local, mas não deu certo. Voltar a fazer planos faz muito sentido", afirmou Nelson Pereira dos Reis, presidente da Abiquim. A demanda por ácido acrílico no mercado interno tem sido crescente, uma vez que as indústrias de tintas e de higiene e limpeza vivem forte expansão.