04/01/17 14h19

Brasil pretende propor a Trump foco em até dez acordos bilaterais

Valor Econômico

O governo brasileiro pretende levar ao futuro presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, uma proposta de dar prioridade nas negociações de cinco a dez acordos em diferentes setores que se arrastam sem avanços concretos nos últimos anos. A informação foi dada ontem pelo ministro das Relações Exteriores, José Serra, após cerimônia de promoção de diplomatas no Palácio do Itamaraty.

Segundo ele, há cerca de 50 acordos atualmente em negociação que ainda não chegaram a bom termo. A embaixada do Brasil em Washington passará um pente-fino, até fevereiro, nos prioritários. Um dos que podem entrar na lista é o acordo de salvaguardas tecnológicas para exploração da base de lançamentos de Alcântara (MA). Um tratado chegou a ser assinado no início da década da passada, mas foi rejeitado pela Câmara dos Deputados. Depois, o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva firmou um acordo para o uso da base pela Ucrânia, mas a parceria foi considerada um fracasso e os dois países resolveram extinguir a empresa binacional criada com essa finalidade.

Para o ministro, a vantagem de dar prioridade para cinco a dez assuntos é permitir avanços reais, em vez de buscar uma agenda excessivamente ampla e que dificilmente alcança resultados. "A relação Brasil-Estados Unidos não é só comércio", destacou o tucano.

Em um ano carregado na agenda de negociações comerciais, Serra, argumentou que o Brasil não tem uma economia fechada e só pretende abrir mais o mercado para parceiros externos com base na reciprocidade. "No Brasil, há uma ideia equivocada de que nós avançaremos [nos acordos comerciais] fazendo concessões. Agiremos na base da reciprocidade: só concederemos se obtivermos alguma coisa em troca", afirmou.

"Não temos a economia mais fechada do mundo, como se diz folcloricamente até por brasileiros", acrescentou o chanceler. Para ele, é importante verificar não apenas o nível das tarifas praticadas, mas também a existência de barreiras técnicas e sanitárias. "A vanguarda [desse tipo de protecionismo] está na Europa, nos Estados Unidos e em outras regiões."

Serra demonstrou expectativa de avanços nas negociações para a ampliação do acordo comercial com o México, além do lançamento de tratativas com o Canadá e com o EFTA - bloco formado por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. Ele reconheceu dificuldades para firmar um acordo de livre comércio com a União Europeia neste ano, quando haverá eleições para presidente na França e para primeiro-ministro na Alemanha, mas destacou como positiva a retomada das discussões em torno de ofertas de liberalização comercial.

O ministrou usou a cerimônia para fazer um balanço de seus quase oito meses à frente da pasta. Fez menção extensa questões orçamentárias e lembrou que, no ano passado, foram aprovados créditos suplementares de R$ 3 bilhões para abater dívidas com organismos internacionais e de R$ 580 milhões para regularizar atrasos em gastos de custeio. "O que acontecia no Itamaraty era reflexo de um colapso de liderança e gestão", disse o ministro, citando atrasos no pagamento de aluguéis de embaixadas e de auxílio-moradia para diplomatas no exterior. "Acabamos com o melindre da inadimplência".