10/01/11 11h15

Brasil torna-se referência em odontologia

Valor Econômico

Uma das muitas coisas surpreendentes sobre o Brasil é que a odontologia praticada no país é uma das mais avançadas do mundo. A habilidade de seus dentistas e o tamanho de seu mercado, que cresceu rapidamente nos últimos anos, vêm atraindo algumas das maiores companhias de materiais odontológicos, como a Dentsplye a Ultradent, dos Estados Unidos, e a KaVo, da Alemanha. "É um ambiente que encoraja as pesquisas originais", afirma Luiz Abreu, diretor-geral da Ultradent para o Brasil e a América do Sul, que chegou ao Brasil em setembro de 2007.

Durante sua curta presença no país, a Ultradent já desenvolveu dois produtos para a venda no mundo todo. Um deles, a ser lançado em breve, é um instrumento chamado "apex locator" (delimitador de ápice), que ajuda na avaliação do trabalho necessário no tratamento de canal. O outro, batizado de Tilos, é um conjunto de limas para o tratamento de canal, projetado para ser menos intrusivo. Abreu diz que a empresa tem "pelo menos" mais quatro produtos e técnicas em desenvolvimento no Brasil. Além disso, professores brasileiros de ortodontia são membros permanentes da equipe internacional de avaliadores da Ultradent, envolvida no desenvolvimento de novos produtos.

Abreu diz que a odontologia brasileira é uma combinação de culturas dos Estados Unidos, que enfatizam a estética, e da Europa, onde "o foco número um é que os dentes devem cumprir as funções que a natureza criou para eles". O Brasil desenvolveu essa cultura híbrida por causa da desigualdade de renda. Uma minoria da população pode arcar com - e exige - os tratamentos mais sofisticados. Uma maioria muito mais numerosa precisa aceitar os serviços possibilitados por orçamentos muito mais limitados.

Há uma tradição dos serviços públicos na odontologia. A cidade de Campinas foi a primeira no Brasil a adicionar flúor na água potável distribuída à população, depois que um dentista foi eleito para a Câmara Municipal. Hoje, quase toda a água encanada distribuída no Brasil recebe flúor. Mas nem todas as condições são ideais para a inovação no Brasil. Tão notória quanto a desigualdade social é a burocracia humilhante do país. A linha Tilos, da Ultradent, desenvolvida por brasileiros, já está à venda nos EUA, Europa e Japão, mas não no Brasil. "Podemos desenvolver novos produtos, mas o processo de registro é um dos mais complicados do mundo", afirma Abreu.