01/12/09 11h00

Brasil vai fazer gás de urânio para combustível nuclear

O Estado de S. Paulo

O Brasil terá domínio completo do ciclo do combustível nuclear em dezembro de 2010, quando entrará em funcionamento pleno a Usexa, usina de produção de gás de urânio, no Centro Experimental Aramar, a sede do Programa Nuclear da Marinha, em Iperó (SP). Os testes começam em maio. A fábrica, um pavilhão ocupado por quilômetros de tubos, válvulas e uma rede de controle digital, está recebendo o ajuste final para iniciar o ciclo de 150 dias de ensaios que antecede a produção regular.

Esse não é o único segredo guardado na área de 90 mil metros quadrados, garantida por fuzileiros navais, sensores eletrônicos e rígidas normas de segurança. Depois que voltou a receber investimentos, há pouco mais de dois anos, Aramar acelerou o ritmo das obras civis e das investigações científicas. Em meio a vestígios da Mata Atlântica e da densa vegetação de cerrado, há prédios de 30 metros de altura em construção, lastreados sobre a rocha pura. Ali vai funcionar em 2014 um reator de 48 MW de US$ 130 milhões. Está parcialmente pronto e estocado. Vai servir ao submarino atômico que a Marinha está produzindo em parceria com os estaleiros DCNS, da França.

De determinados pontos, estão saindo duas novas gerações de ultracentrífugas, 15% e 30% mais eficientes no delicado trabalho de enriquecer o urânio de forma que possa produzir energia. As facilidades atendem à demanda atual das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), mas terão de ser expandidas para suprir as exigências das oito novas centrais elétricas planejadas para o setor. "Tudo isso significa que 25% dos objetivos pretendidos para 2014, nosso ano chave, estão resolvidos", explica o comandante André Ferreira Marques, coordenador de Propulsão Nuclear.

A usina de gás é a quarta do mundo. Tem capacidade para fornecer 40 toneladas por ano, volume necessário ao suprimento da Força, empenhada no desenvolvimento próprio do sistema de propulsão dos futuros submarinos. O primeiro navio entra na água em 2020. É o único segmento do processo que o País ainda compra no exterior, embora domine todo o conhecimento. A Usexa custou R$ 40 milhões (US$ 23,3 milhões). Do total, R$ 23,6 milhões (US$ 13,7 milhões) saíram da Financiadora de Projetos e Pesquisas.