13/10/10 14h53

Brasil vive nova onda de investimentos

Valor Econômico

Em 2007, houve falta de cimento em algumas regiões do Brasil. Neste ano, o país está importando quase 1 milhão de toneladas para abastecer alguns mercados, principalmente no Nordeste. A partir de 2012, dizem empresários do setor, vai ter sobra de cimento no país. Essa mudança de cenário será fruto da nova onda de investimentos na produção de cimento, a maior desde o 'milagre econômico', na década de 70, quando o consumo mais que dobrou. Ela promete adicionar 44 milhões de toneladas do produto à atual capacidade da indústria, um aumento de 70%. Caso se confirmem todos os projetos anunciados até agora, os investimentos no setor vão superar R$ 15 bilhões (US$ 8,82 bilhões) até 2016, conforme levantamento feito pelo Valor.

O consumo, que vinha acelerado desde 2007 e estagnou durante a crise, neste ano cresce a taxas de dois dígitos. De janeiro a setembro, aumentou 15% e o mercado doméstico prevê fechar o ano com volume recorde, na casa de 58 milhões de toneladas. Por conta disso, tradicionais fabricantes e alguns investidores novatos no setor anunciaram planos e intenções de expansão do parque fabril atual e montagem de novas instalações.

A expectativa de executivos da indústria é que a demanda se mantenha forte e sustentável até 2015. A estimativa mais conservadora aponta estabilização do consumo brasileiro na faixa de 70 milhões de toneladas ao ano, o que daria consumo de 350 quilos do produto por habitante. Já os mais otimistas projetam 80 milhões de toneladas, chegando próximo da média mundial, que foi de 422 quilos em 2008. Na China e Coreia do Sul, o consumo per capita superou mil quilos. No Brasil, foi de 272.

Walter Schalka, presidente da Votorantim Cimentos, que está investindo mais de R$ 5 bilhões (US$ 2,94 bilhões) no país, aponta três fatores que puxam a demanda de cimento no Brasil hoje. Primeiro, o boom imobiliário no segmento residencial, fortalecido com o programa de habitação popular do governo, o Minha Casa Minha Vida. A segunda frente está em infraestrutura. Por fim, os segmentos comercial e industrial (escritórios, shopping centers e fábricas), os quais vinham fortemente aquecidos até 2008, pararam com a crise e agora voltaram com muita força, segundo informa o executivo.

Com o avanço do consumo para dentro do país - Norte e Centro-Oeste - e para o Nordeste, essas regiões tornaram-se alvo dos investidores. Cerca de metade da nova capacidade foi direcionada para locais como Porto Velho (RO), Xambioá (TO), Barcarena (PA), Pecém (CE), Rio Grande do Norte, Bahia e Mato Grosso, abarcando a maioria dos Estados dessas regiões. No sul do Pará, dois grandes grupos brasileiros - Votorantim e Camargo Corrêa - estudam locais para montar fábricas com vistas a atender a construção de futuras usinas hidrelétricas, caso de Belo Monte, já definida, e outras previstas para a região Norte.

A Camargo Corrêa Cimentos (CCC), controlada do grupo construtor Camargo Corrêa, planeja investir R$ 3,6 bilhões (US$ 2,1 bilhões) até 2016, em expansão e novas fábricas, para elevar sua produção em 75%, chegando a 14 milhões de toneladas. No ano passado, a empresa fechou o ano com 10% do mercado nacional ao vender 5,1 milhões de toneladas, atrás apenas da Votorantim, líder, com pouco mais de 40%, e do João Santos, grupo pernambucano que atua basicamente no Norte e Nordeste, com 11%. As multinacionais Cimpor, de Portugal, Holcim, da Suíça, e Lafarge, da França, ficaram, respectivamente, com 9%, 7% e 7%.