11/05/10 11h46

Brasileiro amplia gastos com saúde e educação

O Estado de S. Paulo

Que o brasileiro incluiu nos últimos dez anos despesas com internet, TV a cabo e o notebook em seu orçamento era previsível, diante da infinidade de novas tecnologias disponíveis. Mas o surpreendente é que as famílias também ampliaram nesse período os gastos com saúde e educação, revelam resultados preliminares da nova Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

"Os gastos bons estão aumentando", afirma Antonio Evaldo Comune, coordenador do IPC da Fipe e da nova POF, fazendo referência a desembolsos com educação e saúde que, no futuro, normalmente se traduzem em melhor qualidade de vida. Cursos de pós-graduação e planos odontológicos, por exemplo, que não faziam parte das despesas listadas, devem ser incluídos a partir do fim do ano na nova pesquisa. Usada para calcular o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) das famílias que ganham até 10 salários mínimos por mês (R$ 5,1 mil / US$ 2,9 mil) na cidade de São Paulo, a POF é uma espécie de radiografia do consumo e identifica mudanças de hábitos.

Comune pondera que os resultados, obtidos com exclusividade pelo Estado, são ainda preliminares, mas já sinalizam as novas tendências nos gastos. A maior preocupação com educação e saúde também está estampada nos gastos com cursos superiores, que aumentaram 25% em dez anos, cursos de idiomas, cuja despesa mais que dobrou (122,26%) no período, e desembolsos com exames médicos e lentes de contato, que subiram 329,52% e 634,62%.

As alavancas para essas mudanças foram a estabilidade de preços combinada com a maior oferta de crédito de bancos e financeiras. Juntas, elas promoveram uma elevação no padrão de vida, observa Comune. Ele explica que, quando o padrão de vida melhora na economia, geralmente as despesas com habitação diminuem e a renda é direcionada para o consumo de produtos e serviços mais sofisticados.

Foi exatamente esse o movimento que ocorreu nos últimos dez anos. Os gastos com habitação, que respondiam por 32,8% das famílias pesquisadas em 1999, hoje representam 30,6%. Esse recuo no principal grupo de despesas foi provocado especialmente porque o gasto com aluguel caiu pela metade no período, de 8% para 4%. Comune explica que, além do ajuste no valor dos aluguéis ocorrido após o Plano Real, o maior acesso à compra da casa própria contribuiu para que a despesa com aluguel perdesse participação nos gastos das famílias. Com a grande oferta de crédito à habitação e os planos do governo para facilitar a compra da casa própria, a tendência é de que esse item perca importância.

Em contrapartida, com mais renda disponível no bolso, o gasto com internet aumentou 2.407% em dez anos e liderou o ranking de produtos e serviços que registraram maiores taxas de crescimento de participação no orçamento doméstico. Desembolsos com a compra de microcomputador, por sua vez, aumentaram 970% no período e o notebook, que era um ilustre desconhecido, passou a fazer parte da lista de aquisições.