21/01/13 09h30

Brics são o único motor do crescimento, diz professor

Folha deS. Paulo

Para especialista, Brasil tem janela de oportunidade de 15 ou 20 anos

O rápido crescimento das economias emergentes, que já representam mais da metade da atividade econômica do mundo, é umas das principais marcas das mudanças do século 21.

"Pela primeira vez na história, os países mais ricos são os que agora devem dinheiro aos pobres", diz Mauro Guillén, diretor do instituto Joseph H. Lauder da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, e autor de "Global Turning Points".
À Folha ele fala sobre a sustentabilidade do crescimento dos Brics e sobre outras mudanças econômicas que estão por vir. Confira trechos da entrevista.

Folha - Por que o sr. diz que hoje as mudanças na economia tem impacto maior?
Mauro Guillén - Há 20 anos, a economia global era composta por Estados Unidos, Europa e Japão. E, politicamente, para abordar todos os problemas, fazia-se o G5.
Agora, Europa, EUA e Japão são peças importantes, mas temos também China, Índia, Brasil, África do Sul, Rússia... Temos muito mais países importantes na economia global e o potencial para conflitos é muito maior.

O crescimento dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) é sustentável? A China já cresce menos...
A esperança é que sim, porque, nestes momentos em que a Europa, os EUA e o Japão não estão crescendo muito, é muito importante que os Brics sigam crescendo. A realidade vai depender um pouco do que os países fizerem.
Por exemplo, a Índia tem que introduzir mais reformas porque tem feito isso de maneira parcial na economia. A China tem que resolver a transição de um modelo orientado somente à exportação a um modelo que inclua o mercado interno.
E o Brasil, que já está crescendo a menos de 2%, também tem de encontrar uma combinação de distintos mercados de exportação e crescimento do mercado interno.
Creio que todos os países precisam de uma gestão renovada pelas suas políticas, fazer mais reformas etc. porque já há quatro ou cinco anos que estão crescendo muito rápido. E a economia precisa que os Brics cresçam. Nesses momentos, eles são o único motor de crescimento.

Como esses países podem aproveitar essa crise?
Se a Europa e os EUA não conseguem sair [da crise], mais que uma oportunidade, é uma necessidade que as economias emergentes, incluindo o Brasil, desenvolvam cada vez mais seu mercado interno, sobretudo a China.

O sr. diz que o mundo passará por mudanças demográficas importantes nos próximos anos. Quais os impactos disso no crescimento econômico?
Temos um efeito relativamente negativo onde a população está envelhecendo muito rápido (Europa, EUA, Japão e Coreia). E outro muito importante nos locais onde ela está crescendo muito (África, sul da Ásia e o Oriente Médio). Nos próximos anos, vai haver um grande dinamismo nessas áreas.
Claro que o efeito na economia depende de se essa oportunidade é aproveitada.
De qualquer forma, o Brasil tem agora um perfil demográfico muito favorável, porque não está entre os países com população envelhecida nem muito jovem. Tem muita gente em idade de trabalhar e relativamente pouca gente dependente.

Mas isso não vai mudar?
Essas situações duram cerca de 15 ou 20 anos. Eu as chamo de janelas de oportunidade, então, o Brasil tem uma janela de oportunidade porque, dentro de 15 ou 20 anos, ele também será um país com população envelhecida.
O componente humano é básico porque as pessoas são os consumidores, os produtores e os poupadores.

O sr. diz que, pela primeira vez, a obesidade é maior que a fome. Quais as consequências disso para a economia?
A obesidade é a nova epidemia. É uma condição cara de tratar, está associada com muitas doenças. E tem efeitos ruins sobre as pessoas que sofrem dela, porque não podem trabalhar tanto etc.
Por outro lado, pode haver um ponto de vista positivo, se você é um empreendedor, pois há oportunidades de mercado até nos setores de bens e serviços que essa população obesa pode precisar.
Nos países emergentes, sobretudo na China, é onde está crescendo mais rapidamente a obesidade.
Quando o nível de vida sobe e as pessoas têm mais dinheiro para gastar, a primeira coisa que fazem é mudar sua dieta. Cada vez mais, comem coisas processadas ou ricas em gordura.