Câmara de ozônio criada na USP descontamina até mil máscaras em duas horas
Pesquisadores estudam o uso da câmara em central de descontaminação para atender instituições de saúde da região de São Carlos
Jornal da USPNo Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, pesquisadores criaram uma câmara de ozônio para descontaminar máscaras respiratórias e equipamentos de proteção individual (EPIs) utilizados por profissionais de saúde no combate à covid-19. As máscaras são colocadas no interior da câmara, onde passam por ciclos de vácuo e atmosfera saturada de ozônio, penetrando em todos as partes e promovendo sua descontaminação. Com o equipamento, o Grupo de Óptica do IFSC estuda a criação de uma central de descontaminação das máscaras usadas nos hospitais da região de São Carlos, no interior de São Paulo.
As máscaras usadas são colocadas dentro de um saco de poliéster trançado e colocadas no interior da câmara. Em seguida, inicia-se o processo por meio de ciclos de vácuo (remoção do ar da câmara) e injeção de ozônio produzido por um gerador acoplado à máquina. Após sete ciclos, levando um tempo total de duas horas, todas as máscaras estão descontaminadas e prontas para serem usadas novamente. O sistema de válvulas, controlado por um micro-processador, comanda todos os passos da operação do equipamento.
Após remoção da câmara, as máscaras são colocadas em sacos plásticos, também descontaminados com ozônio, e ficam prontas para reutilização. A câmara tem capacidade de descontaminar de 800 a 1.000 máscaras por ciclo, podendo também descontaminar outros tipos de EPI (equipamentos de proteção individual). O sistema é todo micro-processado e trabalha com ciclos de vácuo e exposição ao ozônio, que otimizam a eliminação dos micro-organismos.
Todos os micro-organismos foram eliminados após quatro ciclos, mas os pesquisadores adotaram a operação com sete ciclos para aumentar a segurança. São 7 ordens logarítmicas (10 milhões de vezes) na diminuição microbiana em todas as partes de cada máscara. A câmara não necessita de estrutura especial para a operação. Tubos especiais permitem fazer a exaustão do ar de seu interior e do ozônio para fora do local. A tampa da câmara de ozônio é hermeticamente fechada, dando adequada proteção de uso, sendo um sistema totalmente automatizado. Basta colocar as máscaras, apertar o botão e aguardar o tempo: uma luz indica o final da operação.
Central de Descontaminação
O Grupo de Óptica do IFSC estuda criar uma central de descontaminação de máscaras em São Carlos, para que os hospitais, Unidades de Pronto Atendimento (UPAS) e Unidades Básicas de Saúde (UBS) da região possam trazer suas máscaras a cada dois ou três dias, para serem descontaminadas e devolvidas à procedência. Desta forma, apenas uma unidade poderia dar conta de uma região, o que nada impede que cada hospital tenha sua unidade própria.
De acordo com o professor Vanderlei Bagnato, pesquisador do Grupo de Óptica do IFSC, que idealizou e desenvolveu o equipamento, é recomendado que as máscaras sejam identificadas por seus usuários (pequena etiqueta de fita com nome) – para que o mesmo usuário sempre utilize sua própria máscara após a descontaminação. Embora o procedimento não seja necessariamente obrigatório, ele deixa os usuários mais confortáveis, ressalta Bagnato.
O uso intenso de máscaras de proteção respiratória pela população e pelos profissionais da saúde no combate á covid-19 vem causando uma escassez de máscaras respiratórias profissionais em todo o mundo. Uma mesma máscara pode ser utilizada em hospitais por sete dias ou mais, por isso a reciclagem é apontada como forma de amenizar o problema.
O ozônio (molécula reativa de oxigênio) é conhecido como dos mais rápidos e eficazes agentes microbicidas, tanto para bactérias quanto para vírus. O ozônio age oxidando a camada proteica (envelope do vírus), modificando sua estrutura e destruindo completamente a funcionalidade do vírus. A descontaminação na câmara é feita em via seca, sem temperatura e sem danos na estrutura das máscaras.
O Centro de Óptica e Fotônica do IFSC, do qual faz parte o Grupo de Óptica, recebe financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), e trabalha há mais de dez anos em processos de descontaminação de alimentos, órgãos para transplantes e infecções do trato respiratório, usando ação fotodinâmica, UV e ozônio. Os trabalhos científicos sobre publicados pelos pesquisadores do Cepof estão disponíveis no site http://cepof.ifsc.usp.br.