03/09/25 15h09

Campinas tem melhora na emissão de gases de efeito estufa

Município reduziu em 18% o índice entre 2021 e 2023; setor de transportes é responsável pelo maior impacto

Correio Popular (Campinas)

Campinas conseguiu reduzir em 18% suas emissões de gases de efeito estufa no período de 2021 a 2023, segundo o novo inventário divulgado pela Secretaria do Clima, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Seclimas). O levantamento mostra que as emissões caíram de 3,6 milhões para 3 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO₂e), resultado atribuído principalmente à menor queima de combustíveis fósseis e à ampliação do uso de etanol.

Responsável por 74% das emissões municipais em 2023, o setor de transportes concentra o maior impacto no inventário. Segundo o levantamento, aviões abastecidos no Aeroporto Internacional de Viracopos respondem sozinhos por 52% desse total, enquanto o transporte rodoviário equivale a 48%. Entre 2022 e 2023, a queda nas emissões foi de 140 mil tCO₂e, o equivalente a 4,5%. Já o setor de Resíduos Sólidos e Efluentes foi o único a registrar alta, com acréscimo de 10 mil tCO₂e em 2023, impulsionado pelo crescimento da geração de lixo orgânico e esgoto.

A Seclimas enumerou uma série de medidas para justificar a redução conquistada, como o plantio de 14 microflorestas, a restauração de áreas verdes, a compostagem de resíduos de poda e lodo de esgoto, a substituição de lâmpadas da iluminação pública por LED e a ampliação do plano cicloviário. Também citou programas de pagamento por serviços ambientais e o saneamento rural sustentável, que substituiu fossas por biodigestores em áreas de Joaquim Egídio, Tanquinho (limite com o município de Jaguariúna) e Barão Geraldo.

Apesar do avanço, especialistas ouvidos pelo Correio Popular afirmaram que parte das ações listadas pela Prefeitura não pode ser associada diretamente ao período analisado. Entre elas está o plantio de microflorestas, cuja primeira unidade foi implantada apenas em abril de 2025, depois do intervalo coberto pelo inventário.

Eles também destacaram que a consolidação da política climática local depende de ações estruturantes, como integração da mobilidade metropolitana, fortalecimento do Plano Local de Ação Climática (PLAC) e criação de mecanismos regulatórios e jurídicos capazes de transformar Inventário foi divulgado pela Seclimas reduções conjunturais em resultados permanentes.

O professor Creso de Franco Peixoto, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, avaliou que o transporte é o grande nó da política climática local. Ele defendeu investimentos em novas rodovias para aliviar os congestionamentos, criação de fretados públicos subsidiados e incentivos ao uso de motos elétricas no tráfego urbano.

Para ele, programas de incentivo ao plantio de árvores como compensação de emissões aéreas são educativos, mas não trazem impacto estrutural. Ele deu exemplos de companhias, como a British Airways, que adotaram práticas de compensação sem resultados expressivos. O professor também apontou que a escolha de aeronaves menores e mais eficientes pode reduzir o consumo de combustível por passageiro em comparação aos grandes wide-bodies, aeronaves de fuselagem larga.

Em nota, a concessionária Aeroportos Brasil Viracopos ressaltou que os dados referentes às emissões provenientes do abastecimento de aeronaves não são de gestão da administradora, mas de responsabilidade de cada uma das companhias aéreas que operam voos no aeroporto. As emissões associadas à concessionária são calculadas pela ferramenta internacional GHG Protocol e contemplam os escopos 1 (gases refrigerantes, combustível utilizado em frota própria e empilhadeiras), 2 (energia elétrica) e 3 (resíduos e transporte interno). Desde 2015, a Aeroportos Brasil Viracopos possui o selo ouro do Programa GHG Protocol.

Para o advogado Pedro Carneiro, especialista em direito ambiental e ESG (Ambiental, Social e Governança), a redução das emissões em Campinas só será sustentável se o município transformar o Plano Local de Ação Climática (PLAC) em uma política pública vinculante, com força de lei. “É necessário criar metas setoriais obrigatórias, fortalecer o licenciamento ambiental climático e incluir critérios de sustentabilidade em compras públicas. Sem mecanismos econômicos, como créditos de carbono e incentivos fiscais, a descarbonização não se sustenta”, afirmou.

Ele avaliou que Campinas já dispõe de uma base legal sólida para induzir condutas sustentáveis, combinando incentivos econômicos, exigências regulatórias e instrumentos de governança participativa. Nesse modelo, empresas e cidadãos passariam a ter vantagens concretas ao adotar práticas de baixo carbono, seja por meio de benefícios fiscais como IPTU e ISS Verde, seja pelo acesso a programas de créditos de carbono. “Sem arcabouço jurídico sólido, o PLAC corre o risco de se tornar apenas um plano orientador, sem efetividade”, disse.

O advogado também chamou a atenção para o setor de resíduos, considerado um dos pontos frágeis da política climática municipal. Ele defendeu que o município precisa atualizar normas locais, aplicar de forma rigorosa a Política Nacional de Resíduos Sólidos e reforçar a fiscalização sobre aterros e efluentes. Para ele, a redução das emissões só será consistente se houver fechamento definitivo de lixões e destinação de toda a coleta a aterros sanitários licenciados.

Além disso, Carneiro ressaltou a importância de estimular a compostagem e a reciclagem, incorporando a educação ambiental como eixo transversal. Sem engajamento social e mudança cultural, acrescentou, os instrumentos jurídicos e regulatórios perdem eficácia.

 

OUTROS NÚMEROS

O setor de Energia Estacionária, responsável por 14% das emissões, registrou queda de 75 mil Responsável por 74% das emissões municipais em 2023, o setor de transportes concentra o maior impacto no inventário; segundo o levantamento, aviões abastecidos no Aeroporto Internacional de Viracopos respondem sozinhos por 52% do segmento, enquanto o transporte rodoviário equivale a 48% tCO e, redução de 16% em relação a 2022. O setor AFOLU respondeu por apenas 1% das emissões, mas apresentou a maior queda percentual, 19%, devido à diminuição da supressão de vegetação.

Em termos per capita, cada morador de Campinas foi responsável por 2,55 tCO e em 2023, contra 3,14 tCO e em 2021.

 

PREFEITURA

O secretário do Clima, Braz Adegas Júnior, defendeu que o conjunto das medidas aponta uma direção estratégica. “Campinas já vem realizando uma série de iniciativas para mitigar os GEE, como o plantio de microflorestas, ampliação do Plano Cicloviário, compostagem de resíduos, restauração florestal e substituição da iluminação pública por LED, entre outras ações. Precisamos perseverar”, analisou.

Gases de Efeito Estufa (GEE) são aqueles que absorvem e reemitem calor na atmosfera, como o dióxido de carbono (CO), o metano (CH) e os óxidos de nitrogênio (NOx). Embora existam naturalmente, atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento, intensificam sua concentração, contribuindo para o aquecimento global.

Lançado em 2024, o PLAC estabeleceu 20 ações e 96 subações até 2050, alinhando Campinas às práticas internacionais de combate às mudanças climáticas. Na área de mobilidade, a Emdec destacou a operação dos corredores BRT, concluída em abril deste ano, e a expansão da malha cicloviária, que já soma 123,7 km.

Além disso, a nova licitação do transporte coletivo prevê a adoção de frota limpa, com ônibus elétricos e movidos a gás natural, biometano ou hidrogênio. Há possibilidade de ampliar a frota eletrificada com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento. A Emdec também promove inspeções ambientais gratuitas em veículos, com o objetivo de conscientizar motoristas sobre emissões e manutenção.

 

Fonte: https://correio.rac.com.br/campinasermc/campinas-tem-melhora-na-emiss-o-de-gases-de-efeito-estufa-1.1705264