27/04/10 10h58

Casa "verde" vai do popular à classe média

Valor Econômico

O tijolo é feito de terra e cimento - não passa pelo processo de queima na olaria. As telhas são de celulose reciclada. Uma das paredes é feita com caixa de leite e tubos de pasta de dentes, picados e aglomerados numa chapa. Na frente, a vegetação está meticulosamente posicionada para diminuir a temperatura interna. A construção é seca - não leva um único saco de areia. Com o charme quase irresistível do ambientalmente correto, a casa sustentável, de 40 metros quadrados, ainda é um protótipo e será apresentada hoje na Ambiental Expo. Fora do pavilhão, o mesmo apelo sustentável já começa a ser mote de vendas em empreendimentos residenciais.

Antes restrita aos imóveis comerciais de alto padrão, a certificação verde começa a ganhar terrenos entre os incorporadores de prédios residenciais. A Fundação Vanzolini, que emite o certificado Aqua em parceria com a francesa Qualitel, criou no Brasil um selo verde para empreendimentos residenciais. Dois contratos foram fechados: com a novata Ecomundo, da Bahia, e a paulista Casoi Desenvolvimento Urbano - que pretende construir um empreendimento popular em Pindamonhangaba dentro dos padrões exigidos pela certificação. "Acreditamos que a economia que um empreendimento como esse gera no condomínio é um diferencial muito importante", diz Hamilton Leite, da Casoi, que estima um aumento de, no máximo, 3% no custo da obra. O empreendimento será lançado em agosto e terá apartamentos de R$ 80 mil (US$ 44 mil) - que serão vendidas dentro do programa Minha Casa, Minha Vida - e casas de cerca de R$ 200 mil (US$ 111 mil).

Assim como no prédio comercial, para obter o selo, o empreendimento precisa ser avaliado em três diferentes fases - programa (anterior ao projeto), concepção e realização. São, ao todo, 14 categorias que podem ser avaliadas entre boa, superior ou excelente. Segundo Manuel Carlos Reis Martins, entre os itens considerados estão a escolha de materiais e sistemas construtivos, canteiro de baixo impacto, o edifício e seu entorno, gestão de energia, de água e de resíduos. Há também uma avaliação em relação ao conforto térmico e acústico e à qualidade do ar, da água e do ambiente.

O Brasil ainda tem muitos passos a galgar na direção do ambientalmente correto. A sustentabilidade começa a avançar na cadeia da construção civil, mas ainda há muitos desafios. No caso dos comerciais, por exemplo, existem prédios mais verdes que outros. Embora haja mais de uma centena de edifícios em fase de certificação, há menos de 15 prédios com o selo no Brasil - ainda assim com uma distância considerável entre os tipos de avaliação. De qualquer forma, a discussão, e principalmente, o interesse das empresas avança rapidamente. "A demanda pela certificação residencial está sendo muito grande", diz o professor.

O chileno Julio Sanzana, que chegou à Bahia há cinco anos em busca de oportunidades na área imobiliária, escolheu o viés da sustentabilidade para a sua nova incorporadora, batizada, não por acaso, de Ecomundo. Sanzana, que havia trabalhado com o conceito no Chile apenas em casas de alto padrão, resolveu experimentar os apartamentos verdes para a classe média na orla de Salvador. Os dois primeiros empreendimentos, com apartamentos entre R$ 200 mil (US$ 111 mil) e R$ 370 mil (US$ 206 mil), serão certificados. Para obter a certificação, a empresa gasta de R$ 17,5 mil (US$ 9,7 mil) a R$ 87,5 mil (US$ 48,6 mil), dependendo do tamanho do projeto. A casa sustentável de 40 m2 foi concebida para custar R$ 40 mil (US$ 22 mil).