12/08/10 14h25

Cipatex prepara transição em meio ao desafio chinês

Valor Econômico – 12/08/10

A caminho de transferir a administração da sua holding para o filho, o empresário William Nicolau chega aos 72 anos no comando de um grupo que deve faturar R$ 750 milhões (US$ 428,6 milhões) este ano, mas que tem um grande desafio pela frente. Em 46 anos, a Cipatex, fundada em 1964 em Cerquilho, no interior paulista, passou de fabricante de carreiras de chapéu (película usada para dar acabamento interno) a uma das maiores produtoras de laminados sintéticos do país, usados em calçados, bolsas, móveis e setor automotivo, entre outros. Mas a transição ficou um pouco mais difícil para este filho de libaneses. Uma viagem à China, há poucos meses, mostrou uma realidade preocupante em termos de concorrência no futuro bem próximo para os seus principais clientes: os calçadistas.

A Cipatex tem cinco unidades: duas em São Paulo, uma na Paraíba, uma no Rio Grande do Sul e a quinta na Argentina. A matriz ainda está em Cerquilho, onde são produzidos os laminados sintéticos em PVC e poliuretano. Nesta mesma unidade funcionam também a joint-venture meio-a-meio que a empresa tem com a DuPont e a Cipatex Sintéticos, que fabrica laminados vinílicos. Em Mogi das Cruzes está a Petrom, fabricante de anidrido ftálico, em sociedade com um grupo italiano no qual a brasileira tem 61%. Na cidade de Bayeux, na Paraíba, o grupo produz laminados de poliuretano.

Perto dos fabricantes gaúchos de calçados do Vale do Sinos, o grupo mantém uma unidade para desenvolvimento de aplicações para os calçadistas, na cidade de Nova Hartz. Em Buenos Aires há uma distribuidora de produtos. Ficar perto dos principais clientes (o grupo foi para a Paraíba depois que a Grendene resolveu instalar uma fábrica na região), profissionalizar a administração, verticalizar a produção, investir no desenvolvimento de produtos e desenvolver mecanismos de governança. Toda a estratégia adotada nos últimos anos para tornar a empresa mais ágil e competitiva pode já não ser o suficiente.

Nicolau defende a verticalização como forma de enfrentar os chineses e passou a fabricar a matéria-prima usada em parte da sua produção. "Precisamos diminuir a cadeira produtiva para enfrentar os chineses." E alerta que é ilusão achar que produtos chineses serão sempre de baixa qualidade. "O setor de calçados ainda consegue enfrentar os chineses, mas os fabricantes de bolsas não conseguiram." O investimento previsto para este ano está em torno de R$ 30 milhões (US$ 17,1 milhões), cerca de 20% acima do ano passado, e a expectativa é que o mercado interno continue aquecido o suficiente para acomodar tanto a produção interna como a importação estimulada pelo dólar barato. Sobre o futuro, Nicolau prefere que o filho William Marcelo, próximo presidente e atual diretor comercial do grupo, fale.

Marcelo acredita que o segmento automotivo, além dos calçados e móveis, vai garantir a expansão. Atualmente, a Cipatex possui apenas 1% do mercado automotivo, que utiliza os laminados para revestimento interno dos carros e bancos, por exemplo. A expectativa é fornecer 25% de tudo o que o setor consome em três anos, algo em torno de 3 milhões de metro lineares. A capacidade total de produção do grupo é de 70 milhões de metros lineares. O controle da Cipatex é dividido com a família Pilon, que atua no setor de açúcar e álcool no interior paulista. O grupo emprega 1,35 mil pessoas. O segmento de laminados, onde a Cipatex mantém 100% das empresas, deve faturar R$ 500 milhões (US$ 285,7 milhões) este ano, alta de 10% sobre 2009. A receita da Petrom deve chegar a R$ 220 milhões (US$ 125,7 milhões) e a sociedade com a DuPont fica na casa dos R$ 60 milhões (US$ 34,3 milhões). As exportações devem subir de R$ 35 milhões (US$ 17,8 milhões) em 2009 para R$ 40 milhões (US$ 22,9 milhões), este ano.