24/01/14 15h11

Com acordo entre Lenovo e IBM, preços podem cair

Valor Econômico

Anunciada ontem, a compra da unidade de servidores de baixo custo da IBM pela Lenovo, por US$ 2,3 bilhões, pode beneficiar empresas brasileiras que usam esse tipo de equipamento.

A expectativa é que ao absorver os negócios da IBM, a chinesa Lenovo, que atualmente lidera a venda global de PCs, atinja uma escala que lhe permita negociar preços melhores para componentes, o que pode se refletir em produtos finais mais baratos. "O mercado local é muito direcionado por preço", disse Piero Delai, analista da empresa de pesquisa IDC.

Segundo o especialista, o posicionamento da IBM é vender produtos mais sofisticados, cobrando mais que os concorrentes por alguns recursos. As máquinas da companhia são equipadas, por exemplo, com conta-giros para controlar o funcionamento dos pequenos ventiladores responsáveis pelo resfriamento do sistema, algo que não é feito por fabricantes como HP, Dell e Oracle. "É certo que a Lenovo adotará uma postura mais agressiva no mercado de servidores. A questão é saber quanto tempo isso vai demorar para acontecer", disse.

A IBM fabrica servidores no Brasil sob um contrato de terceirização com a Flextronics. A Lenovo, que atua nesse mercado globalmente desde 2008, pretende trazer seus produtos para o país a partir de abril. Os equipamentos serão montados na fábrica da companhia em Itu, interior de São Paulo.

Os servidores são usados pelas empresas para fazer o processamento de suas informações. Instalados em centros de dados próprios ou em estruturas contratadas de terceiros, as máquinas fazem funcionar sistemas de e-mail, softwares de gestão e páginas na internet.

De acordo com a IDC, o mercado brasileiro de servidores movimenta mais de US$ 1 bilhão por ano, com um volume superior a 100 mil unidades vendidas. O preço de uma máquina pode ser inferior a R$ 5 mil, ou passar de R$ 50 mil, dependendo de sua configuração. Os componentes usados em um servidor variam de acordo com a forma como o equipamento será usado. Uma máquina responsável por um sistema de e-mails, por exemplo, não precisa de uma configuração muito avançada. Já um sistema que roda um software de análise de dados precisa ser potente.

Com o crescimento da computação em nuvem, um modelo pelo qual as informações não ficam armazenadas na máquina do usuário e são acessadas pela internet, a demanda por servidores vem aumentando. A competição crescente e os avanços tecnológicos, porém, estão reduzindo o preço das máquinas, o que achata as margens dos fabricantes. Daí o interesse da IBM em sair desse negócio.

Desde o começo dos anos 2000, a companhia vem abandonando mercados com margens baixas para se concentrar em áreas de maior retorno, como software e serviços de tecnologia. Em 2005, a Big Blue vendeu para a Lenovo sua unidade de PCs, por US$ 1,75 bilhão. O negócio permitiu que a fabricante chinesa ampliasse a atuação para além de seu país de origem e superasse marcas mais conhecidas do público, como HP e Dell.

Com a compra da unidade de servidores de baixo custo da IBM, a companhia dá mais um passo na estratégia de diversificação de negócios estabelecida há três anos. Hoje, além de PCs, a Lenovo vende tablets, smartphones e TVs. "Essa aquisição mostra nosso interesse em investir em negócios que possam acelerar o nosso crescimento e estender estratégia PC Plus", disse Yang Yuanqing, presidente da fabricante, em comunicado.

Para a Lenovo, o investimento em servidores é estratégico mesmo em um cenário de queda de preços e margens. Com um modelo de negócios baseado na redução de custos e no gerenciamento rigoroso da cadeia de suprimentos, a companhia pode obter bons retornos na operação e, eventualmente, repetir o desempenho obtido no mercado de PCs.

No início do mês, na Consumer Electronics Show (CES), em Las Vegas, o presidente da Lenovo Américas, Gerry Smith, disse ao Valor que assumir a liderança nos mercados em que atua é um dos principais objetivos da Lenovo. "Com escala, as condições de negociação com os fornecedores fica muito mais favorável", disse o executivo, que já foi responsável pela área de suprimentos global da companhia.