04/03/10 10h59

Companhias brasileiras começam a exportar dispositivos para TV digital

Valor Econômico

A indústria brasileira já começa a exportar componentes e televisores com a tecnologia digital adotada no país. Atualmente, o governo federal promove uma caravana aos países da América Latina para apresentar o modelo Integrated Services Digital Broadcasting Terrestrial (ISDB-T), desenvolvido pelo Brasil a partir da tecnologia japonesa. Para o governo, a expansão do padrão brasileiro serve para formar uma imagem de liderança do país em tecnologia da informação (TI). Para as empresas nacionais ou multinacionais que produzem aqui, abre-se uma possibilidade de novas exportações. Segundo a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), o Brasil exportou no ano passado 568 mil decodificadores de TV digital, para sistemas de televisão por assinatura via satélite. Em 2009, também foram exportadas 12.840 televisões de LCD com conversor digital embutido.

A primeira companhia brasileira a fazer investimento relevante fora do país em TV digital é a Linear, de Santa Rita do Sapucaí (MG), que construirá uma unidade de sistemas de transmissão no Uruguai, com valor mínimo de R$ 4 milhões (US$ 2,2 milhões), diz Carlos Alberto Fructuoso, diretor administrativo da empresa. A fábrica buscará atender principalmente o mercado argentino, que já aderiu ao modelo brasileiro. Peru, Chile e Venezuela também decidiram adotar o ISDB-T. Na semana passada, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, foi ao Uruguai para tratar do assunto. Em março, outro grupo brasileiro planeja visitar a Costa Rica. O Brasil também mantém conversas com Cuba, Bolívia, Paraguai e Equador.

Segundo André Barbosa Filho, assessor especial da Casa Civil, as negociações do governo brasileiro em torno da TV digital atravessam o Atlântico. Na semana passada, uma comitiva da África do Sul conheceu o projeto brasileiro. E, no próximo mês, uma delegação de Botsuana vem conhecer o Ginga, software desenvolvido no Brasil que permite recursos de interação com o público. "Quebramos a hegemonia americana e europeia para levar aos países um sistema livre de royalties, que pode promover maior inclusão social", diz Barbosa Filho.

Como a tecnologia brasileira tem código aberto - ou seja, o padrão tem especificações conhecidas, que podem ser modificadas por outros programadores - não é garantida à indústria brasileira reserva de mercado para fornecimento de equipamentos de transmissão e recepção de TV digital aos países que adotarem o padrão ISDB-T, diz Roberto Pinto Martins, secretário de telecomunicações do Ministério das Comunicações. "É uma grande oportunidade comercial para todos, mas, para ser uma realidade, a indústria brasileira tem de ser competitiva, porque a China ou outros países também podem produzir esses equipamentos."