30/11/12 15h39

Complexos se multiplicam pelo interior

Valor Econômico

Com a intensa migração de empresas e pessoas para o interior, os projetos de construção e expansão de shopping centers pipocam em cidades distantes das capitais. Nos eixos paulistas do Vale do Paraíba e regiões de Campinas, Ribeirão Preto e Sorocaba, o crescimento econômico - acompanhado pela especialização dos segmentos de serviços e indústria - criou um forte e ávido mercado consumidor.
 
A descentralização econômica paulista, que teve início na década de 1970 e intensificou-se a partir de 1990, chega ao auge neste ano quando o consumo das cidades interioranas deve superar o da Região Metropolitana, somando R$ 382,3 bilhões em gastos com alimentação, habitação, transporte, saúde, vestuário e educação (50,2% do total do Estado de São Paulo), segundo estudo da IPC Marketing. "Muitos profissionais mudaram da capital em busca de melhor qualidade de vida e, com eles, levaram o hábito de consumir em shopping centers. Quem morava no interior passou a desejar um centro comercial perto de casa", diz Guillermo Borges, superintendente do Jundiaí Shopping, empreendimento inaugurado pela Multiplan em outubro com investimento de R$ 300 milhões.
 
Waldir Chao, diretor de operações da Sonae Sierra Brasil, afirma que a aposta em um portfólio que some a força das capitais ao potencial das cidades do interior é a melhor alternativa para as incorporadoras. "O segredo está em tratar as necessidades de cada demanda. No interior, é preciso incluir marcas regionais no projeto para não atingir o orgulho dos que consomem produtos locais", avalia. Além disso, o interiorano gosta mesmo é de novidade, busca bons serviços, marcas disponíveis nos grandes centros e conforto para realizar suas compras. "As unidades atraem pessoas de cidades satélites, que viajam para visitar o shopping. Vão com menor frequência, mas passam mais tempo consumindo", destaca o executivo.
 
Entre as cidades paulistas atendidas pela Sonae Sierra estão Campinas, Santa Bárbara d'Oeste e Franca. "Em Campinas, o empreendimento é extremamente diferenciado pelo poder de atração da cidade", explica. Ele refere-se ao gigante Parque D. Pedro, inaugurado em 2002 e que hoje recebe 20,3 milhões de visitantes por ano, transformando-se em centro de compras para 25 cidades satélites. A unidade é o primeiro projeto temático e setorizado do Brasil e também o primeiro shopping verde. Os 185 mil metros de área construída abrigam 401 operações, sendo 29 lojas âncoras, 290 satélites, 45 fast food, dez restaurantes, 15 salas de cinema, teatro e 37 lojas de serviços. "A estratégia foi a de fixar na cidade quem ia consumir em São Paulo", afirma.
 
Já a estratégia da Multiplan é ampliar a presença em mercados consolidados, como o de Ribeirão Preto, e abrir unidades para preencher lacunas entre grandes centros. É o caso do Jundiaí Shopping. "Apesar do potencial de consumo, a cidade não tinha um centro de compras completo e os habitantes se deslocavam para São Paulo ou Campinas", destaca Borges. Espremida entre as regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas, Jundiaí concentra um grande número de condomínios residenciais.
 
A força de Jundiaí é confirmada pelo relevo econômico. Segundo estudo coordenado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), em 2010, o Estado de São Paulo concentrava 70% das indústrias de alta e média intensidade tecnológica do Sudeste. Desse total, 75% se localizavam em São Paulo e Campinas. Um segmento especializado e de geração de empregos com maior renda. "A dificuldade de deslocamento nas grandes cidades e a própria preocupação com a segurança geram expectativa pela abertura de centros comerciais perto de casa", afirma Borges. Ainda de acordo com ele, o grupo de habitantes do interior tem mudado muito o comportamento de consumo. "Se o shopping está perto, avançam as vendas por impulso, o que amplia o faturamento das lojas", diz.
 
A combinação entre alta renda e poder de atrair visitantes de cidades vizinhas marca ainda os planos de expansão da Multiplan em Ribeirão Preto. Na cidade, a companhia administra o Shopping Santa Úrsula e o tradicional Ribeirão Shopping, cujo projeto de ampliação está orçado em R$ 750 milhões. O Ribeirão Shopping traz para a região o conceito de complexo multiuso, cada vez mais comum nas capitais. O projeto prevê três novas expansões, ampliando em 45% a área bruta locável (ABL). Para os próximos anos, estão planejadas a construção de quatro edifícios residenciais de alto luxo e de uma nova torre comercial. Agregados ao shopping já existem um hotel e um centro empresarial.
 
A construção de grandes complexos também faz parte da estratégia do Grupo Iguatemi para o interior paulista. O maior projeto está centrado também em Ribeirão Preto - cidade que sozinha gera um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 13,9 bilhões. O mix contempla mais de 200 marcas de diferentes segmentos e uma gama de marcas inéditas na região, como a loja de móveis Etna, a Livraria Cultura e a academia Bodytech. O total do aporte é de R$ 269,6 milhões. "Estamos investindo também em um polo gastronômico, com seis restaurantes que não estão presentes no interior", ressalta Rodolpho Freitas, vice-presidente comercial da Iguatemi Empresa de Shopping Centers.
 
A construção do Iguatemi em Ribeirão Preto está associada à instalação de um novo bairro de alto padrão na cidade - propiciado pelo vetor de desenvolvimento da zona sul. Com isso, o shopping está incrustado em um complexo imobiliário composto por 17 torres comerciais, 18 residenciais, 7 condomínios horizontais, hotel, centro de eventos, campo de golfe e escola. "É uma região com renda qualificada (de classe A e B) na qual estaremos presentes desde o início. Para atrair o público, apostamos em arquitetura diferenciada e também serviços de alto padrão", explica. Ainda no interior paulista, o grupo Iguatemi pretende inaugurar um shopping em Sorocaba, no próximo ano, e em São José do Rio Preto, em 2014. Projetos de expansão marcam a operação também de Campinas.