12/05/08 10h38

Compra de bens não-seriados dispara

Valor Econômico - 12/05/2008

A enorme diferença da velocidade de crescimento das importações e das exportações deve provocar, pela primeira vez em cinco anos, déficit comercial no segmento dos bens de capital fabricados sob encomenda. A projeção é da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), baseada em levantamento inédito. No primeiro trimestre, as compras de sistemas de produção, máquinas e equipamentos não-seriados tiveram salto de 77,6%, alcançando US$ 1 bilhão. As vendas para o exterior, no mesmo período, foram de US$ 1,16 bilhão, um aumento de 43,5%. Esses resultados fizeram com que o saldo comercial caísse 35,6% em relação ao intervalo entre janeiro e março de 2007. Segundo a entidade, as empresas que mais importam bens de capital não-seriados são as dos setores de siderurgia, portos e petróleo/gás. Uma análise do que está ocorrendo com as indústrias nacionais que montam esses complexos sistemas de produção, segundo as projeções, pode levar à identificação do câmbio valorizado como o vilão dessa crise. Afinal, nos últimos três anos, o real valorizou-se 37% em relação ao dólar. Mas a Abdib informa que outros fatores característicos do setor diferenciam essas indústrias dos produtores de manufaturados que também vêm sendo prejudicados pelo real valorizado. Com o câmbio atual, o que ocorre é a perda de competitividade das exportações e o enfraquecimento dessas empresas na competição do mercado interno. O presidente da entidade, Paulo Godoy, explica que há uma brutal diferença de escala na capacidade instalada entre as empresas brasileiras e suas concorrentes, principalmente grupos instalados na China e na Alemanha. "O maior problema foi a descontinuidade dos investimentos em infra-estrutura. Sem esse estímulo, o parque industrial brasileiro foi afetado e a mão-de-obra teve sua qualidade reduzida", afirma. Conforme as informações da Abdib, as exportações do setor cresceram 57,1% em 2005 em relação a 2004. Em 2006, cresceram 19,5%, e o ritmo desabou no ano passado, com um elevação de apenas 0,65%. Na análise das variações das importações nesses períodos, a Abdib constatou que elas cresceram 19,9% em 2005, 13,1% em 2006 e 22,1% no ano passado. Portanto, o que ocorreu no primeiro trimestre - salto de 77,6% - foi muito mais intenso. O saldo comercial das indústrias produtoras de bens de capital não-seriados aumentou 291,6% entre 2004 e 2005 e 31,8% entre 2005 e 2006. Mas entre 2006 e 2007, recuou 34,9%. Godoy alerta que, além do câmbio e da falta de escala, colaboram para o vertiginoso crescimento das importações os custos locais mais elevados com logística, contratação de mão-de-obra, financiamento e tributação. As indústrias do setor, segundo ele, aumentaram a produtividade mas chegaram no limite.