08/10/10 12h12

Construção civil impulsiona mercado de grama

Valor Econômico

Entre os canaviais, as pastagens e as lavouras de milho que compõem a paisagem do sudoeste paulista, uma quarta atividade de proporção mais modesta desponta na região de topografia de discretas ondulações e extensas planícies de terras férteis. Isso porque o clima úmido, com temperaturas médias que oscilam entre 14 e 26 graus e precipitações superiores a 1.300 milímetros anuais, cria condições naturais praticamente ideais para o cultivo comercial de grama.Em um raio de cerca de 50 quilômetros a partir de Itapetininga, em uma região que engloba municípios como Tatuí, Capela do Alto e Angatuba, já não é raro visualizar das estradas extensos tapetes verdes banhados por jatos d'água de diferentes sistemas de irrigação. Durante a temporada de seca, típica do inverno, o uso complementar de água garante qualidade e unidade aos gramados, que atendem à demanda de clubes esportivos, empreendimentos imobiliários, revendedores e qualquer um interessado em esverdear um pouco mais sua propriedade. Sozinho, o Estado de São Paulo abriga o cultivo de 7 mil hectares com grama, ou 41% da área total cultivada no país, de 17 mil hectares. Apenas o polo de Itapetininga cultiva 4 mil hectares e disponibiliza todos os anos para o mercado aproximadamente 1 milhão de metros quadrados.Com atuação no mercado de gramas desde 1990, a LR Gramas é um exemplo de como o mercado cresceu nos últimos anos e apresenta boas perspectivas para os próximos. A empresa começou apenas com a comercialização, mas, diante da demanda acima da oferta a partir de meados daquela década, decidiu verticalizar o negócio e passou a produzir os próprios gramados. "Iniciamos o plantio em 1995. Começamos com apenas 6 hectares e atualmente estamos com 800, em propriedades em Itapetininga e São José dos Campos, em São Paulo, e também em Belo Horizonte", afirma Emerson Rocha, sócio da JR Gramas.Apesar de o mercado de gramas movimentar "apenas" entre R$ 300 milhões (US$ 176,5 milhões) e R$ 350 milhões (US$ 205,9 milhões) por ano, as projeções para a demanda no curto, médio e longo prazos são promissoras. Mais do que a procura gerada a partir da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, o que tem impulsionado o mercado no Brasil é a explosão de empreendimentos imobiliários de todos os portes, residenciais ou comerciais."O consumo está aumentando nos últimos cinco anos, mas ainda existe muita coisa por vir daqui para frente, especialmente no segmento de construção civil e no aumento do uso doméstico", diz Luiz Carlos Cyrineu, presidente da Associação dos Gramicultores do Brasil (Agrabras). Ele lembra que, aliado ao movimento imobiliário, os planos públicos de construção já em andamento também devem manter a procura elevada. Nessa frente pública, Cyrineu destacou os projetos que fazem parte do Programa de Aceleramento do Crescimento (PAC) do governo federal.O foco na construção se justifica pela limitação da demanda de gramas destinadas a práticas esportivas, quase restrita a campos de futebol e de golfe. Cada estádio usa 15 mil metros de grama, enquanto um campo de golfe costuma precisar de cerca de 500 mil metros. Considerando os 40 times que fazem parte da primeira e da segunda divisão do futebol nacional - mais seus respectivos campos de treino - e os 120 campos de golfe existentes no Brasil, o mercado de grama para esporte gira ao redor de 65 milhões de metros quadrados. É até um universo amplo, mas estático. A renovação total dos gramados de campos de futebol e golfe leva anos para acontecer. Normalmente são realizados apenas pequenos reparos, e ainda assim quando são necessários.