21/12/09 15h59

Crise motiva ajustes, mas Cargill resguarda investimentos no país

Valor Econômico

Quando assumiu a presidência da subsidiária brasileira da multinacional americana Cargill, em junho de 2008, Marcelo Martins não imaginava o quanto seu desafio seria diferente do que se apresentava no processo de seleção que lhe garantiu o posto. A maré mudou com o aprofundamento da crise financeira irradiada dos Estados Unidos, em setembro de 2008, e com isso mudaram também as missões de Martins à frente da segunda principal operação da maior companhia de agronegócios do mundo em 2009 - no tabuleiro global da Cargill, o Brasil só é menor que os EUA.

Os aportes no Brasil não pararam por causa da crise. Foi inaugurada uma nova esmagadora de soja de R$ 210 milhões (US$ 122,1 milhões) em Primavera do Leste (MT), já com planta de refino e envase de soja e cogeração de energia elétrica, e a fábrica de processamento de milho de Uberlândia (MG) está na reta final de uma expansão orçada em R$ 112 milhões (US$ 65,1 milhões).

Além disso a empresa venceu, em parceria com a Louis Dreyfus, a concorrência pelo terminal graneleiro em Santos (SP) que era controlado por ela mas cuja concessão havia vencido. Os vencedores não correram riscos e ofereceram R$ 288 milhões (US$ 167,4 milhões) na licitação, R$ 221 milhões (US$ 128,5 milhões) a mais que o preço mínimo estabelecido pela Codesp, autoridade portuária local. "É um terminal estratégico para a empresa. Toda uma cadeia produtiva dependia dessa vitória", diz Martins. A nova concessão vale por 25 anos prorrogáveis por mais 25. Outro projeto que evoluiu foi a ampliação da capacidade de moagem de cana no entorno da usina Cevasa, em Patrocínio Paulista (SP), na qual detém 63% de participação. A usina produz apenas etanol, mas até o ano que vem passará também a fazer açúcar. Estima-se no mercado que se trata de um projeto de quase R$ 200 milhões (US$ 116,3 milhões). Na frente sucroalcooleira, a Cargill vem ampliando sua atuação normalmente por meio de parcerias, e o grupo tem como trunfo um terminal de exportação de açúcar também em Santos.

Se na área de cacau 2009 foi de consolidação após investimentos na produção de chocolates e achocolatados em Porto Ferreira (SP), na área sócio-ambiental a Fundação Cargill teve orçamento superior a R$ 3 milhões (US$ 1,74 milhão), e este deverá chegar a R$ 4 milhões (US$ 2,32 milhões) em 2010.

O ritmo de investimentos não deverá diminuir no ano que vem, mas Marcelo Martins é "franciscano" com as informações sobre novos projetos. Além da conclusão da expansão do complexo de Uberlândia, logo no início de 2010, ele se limita a revelar que será inaugurado um centro tecnológico em Campinas (SP), voltado a inovações para a indústria alimentícia. Pelo menos R$ 10 milhões (US$ 5,8 milhões) serão aplicados no novo centro. Será o terceiro do gênero da Cargill, que já conta com unidades nos Estados Unidos e na Bélgica.