21/08/08 10h47

Cultivo de trigo 'rouba' espaço de outras lavouras no país

Valor Econômico – 21/08/2008

A cultura de trigo no Brasil, antes colocada em segundo plano, começa a ocupar espaço de outras lavouras no país. Em Goiás e São Paulo, o trigo avançou sobre lavouras dedicadas ao feijão. No Paraná, o cereal travou uma disputa com o milho de segunda safra, a chamada "safrinha", mas as duas culturas expandiram-se em áreas de menor expressão, como as de aveia destinada à cobertura vegetal. Nos Estados do Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul, o trigo não teve muito espaço e apenas alternou com rotação de cultura com outros grãos. Nesta safra, a 2008/09, o trigo ocupa uma área de 2,35 milhões de hectares, um crescimento de quase 30% em comparação com o ciclo anterior, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O maior plantio no país reflete a forte demanda global pelo cereal, a intenção do Brasil de reduzir sua dependência das importações e também a maior "segurança" da cultura. Em São Paulo, a área para o trigo saltou de 40,82 mil hectares para 75,23 mil hectares em 2008, um aumento de 84%, segundo dados da secretaria de Agricultura do Estado. O maior avanço ocorreu na região entre Itapetininga e Itararé, com clima mais frio, pouco propício ao milho safrinha, informou o engenheiro agrônomo Edegar Petisco, da secretaria de Agricultura de São Paulo. Nessas regiões, o trigo tomou um pouco do espaço do feijão (sequeiro e irrigação). Boa parte da empolgação dos produtores de trigo do país ocorreu por conta da forte alta dos preços internacionais do cereal entre o fim do ano passado e início deste ano. Mas os produtores plantaram "na alta e vão colher na baixa". Na semana passada, os preços do cereal caíram 20% em comparação com o mesmo período de 2007, informou a consultoria Safras&Mercado. No Paraná, as cotações estavam entre R$ 540 (US$ 343,9) e R$ 550 (US$ 350,3) por tonelada. No Rio Grande do Sul, entre R$ 490 (US$ 312,1) e R$ 500 (US$ 318,5) a tonelada. Na época do plantio, o cereal estava cotado em torno de R$ 750 (US$ 477,7). Segundo Élcio Bento, da Safras&Mercado, não há negócios em andamento neste momento porque a colheita está bem no início. "As chuvas atrapalharam os trabalhos e comprometeram a qualidade do produto." Com uma produção estimada em 5,4 milhões de toneladas nesta safra, um aumento de 38,5% em comparação com o ciclo anterior, o Brasil, um tradicional importador de trigo, deverá embarcar cerca de 800 mil toneladas. Se confirmadas as perspectivas, será um aumento de 26% em relação às vendas no mercado externo registradas no ano passado. A produção estimada de 5,4 milhões de toneladas representa mais da metade da demanda nacional, de cerca de 10 milhões de toneladas.