27/08/12 11h36

Cultura coreana invade Piracicaba

O Estado de S. Paulo

Cidade já tem restaurantes, mercearia com produtos importados e intérpretes para o idioma

A chegada da Hyundai levou a Piracicaba uma população flutuante de coreanos que tem aquecido a economia local. O bairro São Dimas virou uma espécie de "Bom Retiro" - bairro paulistano que abriga grande número de coreanos. É ali que estão três restaurantes de comida típica, mercearia especializada em produtos orientais, drogaria com intérprete de coreano e hotéis que adaptaram seus serviços para melhor atender os clientes estrangeiros.

O restaurante Sonata (nome de um carro da Hyundai) foi montado em um prédio espelhado de três andares, onde funcionava um banco.

"O movimento maior é à noite. As pessoas vêm aqui para comer comida de sua terra e beber soju (destilado de cereal similar ao saquê)", diz Moisés Sang Chil La. O sorridente coreano de 46 anos administra o Sonata e o restaurante que funciona dentro da Hyundai, além do hotel e de três casas montadas para recepcionar conterrâneos.

Com muita pimenta e verduras, os pratos do Sonata variam de R$ 28 a R$ 120. "Come-se muito o kimchi (acelga banhada numa pasta de pimenta), macarrão, carne de porco e frutos do mar", explica o garçom José Lucinaldo, de 29 anos, que se mudou de São Paulo para trabalhar no restaurante.

A poucas quadras está a Mercearia Coreana, aberta por duas irmãs piracicabanas em sociedade com uma coreana, Andrea Lee, que é intérprete, dona do outro restaurante coreano local e professora de filhos dos executivos da Hyundai.

"Decidimos abrir o negócio há dois anos, quando falaram da vinda da Hyundai e quando começaram a chegar os coreanos. Hoje, 90% dos nossos produtos são importados da Coreia", diz Cristina Colonnese, de 53 anos.

As prateleiras da pequena mercearia têm pacotes de macarrão instantâneo, pasta de pimenta, soju, salgadinhos sabor peixe e muito açaí em pó. "Os coreanos adoram levar açaí e cachaça brasileira para presentear."

Fala-se numa população flutuante de 800 coreanos, mas os dados são desencontrados. Muitos vieram para trabalhar na construção da fábrica da Hyundai e de seus fornecedores, outros nas áreas administrativas.

A chegada dos coreanos também impulsionou novos serviços, como o de intérprete. A rede de farmácias Drogal colocou há uma semana em sua unidade no São Dimas um funcionário que fala coreano para recepcionar o novo público.

"O coreano usa muito a farmácia para se tratar e eu fico como intérprete, por causa da dificuldade de comunicação", diz Rogério Tomaziello, de 57 anos, jornalista que começou a estudar a língua e a cultura coreanas em 2009.

Batizado de Rogério Kim por seu professor coreano, ele tem servido como propaganda para a rede, que divulga o serviço exclusivo como atrativo aos coreanos.

Os gerentes da rede com 22 lojas em Piracicaba receberam curso básico sobre como atender os novos clientes. "Foi ensinado para a gente evitar olhar direto nos olhos e não cumprimentar com apertos de mão, coisas que eles não estão acostumados", conta a gerente Mariely Morato.

Como muitas famílias de executivos vieram junto na fase anterior à de produção, a rede particular de ensino se adaptou para receber os filhos desses trabalhadores. Dois colégios da cidade têm alunos coreanos e trabalham com intérpretes.

"Tentamos inseri-los na cultura brasileira, mas sempre com uma preocupação de oferecer apoio pedagógico, porque sabemos que há uma diferença grande de culturas. Eles cumprem a grade curricular, mas têm carga extra para suprir a distância de língua e conhecimentos", explica a coordenadora bilíngue do Colégio Piracicabano. Hoje, há filhos de seis famílias coreanas matriculados na escola.

Os coreanos provocaram também uma transformação no setor hoteleiro. Em quase todo hotel é possível encontrar coreanos hospedados. O Hotel New Life, um flat com 90 apartamentos, destina 40% deles para coreanos.

"O hotel contratou um recepcionista que fala coreano e houve adaptações para o café da manhã", explica a gerente de marketing Noélia Huari Montano, de 30 anos.