17/07/12 13h08

Deloitte vai investir US$ 85 milhões

Valor Econômico

As seguidas reduções na previsão de crescimento do Brasil em 2012 não foram suficientes para abalar o ânimo da Deloitte com o país. Dos US$ 750 milhões que a segunda maior rede internacional de auditoria e consultoria do mundo vai investir em regiões consideradas estratégicas nos próximos três anos, US$ 85 milhões serão destinados ao Brasil.

No triênio anterior, o país não figurava entre os mercados prioritários, tendo recebido remessa de US$ 5 milhões do total distribuído, de US$ 500 milhões.

Juarez Araújo, presidente da Deloitte no país, revelou ao Valor que a empresa pretende destinar os recursos para contratação de profissionais experientes, investimento em inovação e eventuais aquisições de consultorias das áreas de tecnologia de informação e finanças corporativas. Nenhuma aquisição relevante foi feita pela Deloitte nos últimos anos.

A empresa informou que fechou o ano fiscal encerrado em maio com receita de R$ 932 milhões, com aumento de 12% ante o exercício anterior.

De acordo com Araújo, à medida que a base de comparação aumenta, fica difícil manter a média dos últimos anos de crescimento de 15% a 20%, que ainda é o objetivo da empresa. "Por isso vamos investir e podemos até fazer aquisições", afirmou.

Na área de finanças corporativas, a Deloitte não quer mais ficar restrita ao trabalho de auditoria dos dados de companhias alvo de aquisição ("due diligence"), mas ganhar espaço assessorando empresas que querem ir às compras ou ser vendidas - algo que ela já faz, mas em menor escala.

Esse é um ramo hoje dominado por bancos de investimento e butiques especializadas, mas a Deloitte confia que terá espaço para oferecer esse serviço, principalmente para empresas médias. "Os bancos preferem os grandes negócios", diz Araújo, ressaltando que há muito espaço para consolidação de segmentos e para o desenvolvimento de projetos de investimentos.

Ao traçar um panorama da indústria de serviços, o presidente da Deloitte diz que sairão ganhando as empresas que oferecerem pacotes integrados aos clientes. E cita como exemplo um programa que é chamado de "Nordeste total". "Fazemos a prospecção do negócio, identificamos onde há incentivo para construção da fábrica, acompanhamos a construção e depois podemos fazer terceirização da contabilidade ou a auditoria", exemplifica o executivo.

É importante notar que o foco de crescimento da Deloitte se volta cada vez mais para a área de consultoria, enquanto o segmento de auditoria, que representa cerca de 35% da receita, apresenta ritmo menor de expansão, inferior a 10% ao ano.

Em relação ao cenário macroeconômico, a piora recente nas expectativas sobre o Brasil não abala a confiança de Araújo. Ele avalia que, como a Deloitte atua em mais de 150 países, ela acaba sendo um bom espelho do mundo. Nesse sentido, ele diz que ainda nota grande interesse de estrangeiros em vir trabalhar no Brasil.

Ainda segundo o executivo, sua atenção maior não é com os riscos de curto prazo. "Não estou preocupado tanto a respeito de como o Brasil vai lidar com a crise, mas como vai estar depois dela. Por enquanto, mesmo com PIB menor, o país ainda está relativamente bem comparado ao resto do mundo. Mas e quando os desenvolvidos se recuperarem, como estará nossa competitividade?", questiona.

O presidente da Deloitte está entre aqueles que acreditam que o modelo de crescimento dos últimos anos, baseado em estímulos pontuais ao consumo, está esgotado. "O Brasil tem que parar de fazer ações de curto prazo. Temos que melhorar a produtividade e infraestrutura", afirma ele, que vê o governo atento a essa questão.