26/04/10 11h03

Demanda em alta estimula os vidreiros

Valor Econômico

Depois de mais de seis anos sem investir na ampliação da capacidade, a indústria de vidros planos está se preparando para um novo ciclo de crescimento - amparada, principalmente, pela demanda nas áreas de infraestrutura, construção civil e mercado automobilístico. Somados, os investimentos realizados em 2009 e anunciados este ano ultrapassam R$ 1 bilhão (US$ 556 milhões) na construção ou reativação de fornos.

De um lado, a indústria de vidros planos foi beneficiada pela redução do IPI de quatro segmentos consumidores do produto - a indústria automobilística, moveleira, de material de construção e linha branca. De outro, os vidros impressos (um tipo de vidro plano translúcido ou desenhado, com um custo mais baixo) ganharam destaque no setor de construção civil com produtos econômicos para o mercado de baixa renda. "Depois de um crescimento de cerca de 10% em 2009, estimamos um aumento de 12% para este ano em vidros planos", diz Lucien Bernard Belmonte, superintendente da Abividro.

O grupo pernambucano Cornélio Brennand, que atua na produção de vidros para embalagens e utilidades domésticas - além da geração de energia e empreendimentos imobiliários - fará a primeira fábrica de vidros planos do Nordeste. Investirá R$ 330 milhões (US$ 183 milhões) na nova unidade, que ficará sediada no município de Goiana (PE) e terá capacidade instalada anual de 260 mil toneladas, o equivalente a 30 milhões de metros quadrados de vidros planos por ano. A empresa está em busca de um sócio, que entrará com a parte tecnológica da fabricação de vidros.

A chegada da Cornélio Brennand ao mercado de vidros planos é representativa porque atualmente existem apenas dois fabricantes no mercado brasileiro: a Cebrace, joint venture entre a francesa Saint Gobain e a inglesa Pilkington, e a americana Guardian. A alta tecnologia e os elevados volumes de investimento representam uma importante barreira de entrada no setor. Conservador e fechado, o setor é avesso à divulgação de informações.

Mas a demanda aquecida abriu as portas para um novo player. Segundo fontes do mercado, o grupo Cornélio Brennand deve conseguir um espaço importante no mercado por conta da expansão do mercado nordestino e da complicada logística e do alto custo que envolve o transporte do vidro. "O aquecimento da construção, além das obras de infraestrutura, Copa do Mundo e Olimpíada, deve beneficiar o setor", diz Belmonte. Na construção civil os vidros planos são usados tanto em edifícios residenciais e, cada vez mais, em prédios comerciais de alto padrão - com níveis sofisticados de eficiência energética.

A Cebrace está investindo cerca de R$ 460 milhões (US$ 256 milhões) em dois fornos. No ano passado, destinou € 60 milhões para reformar o primeiro forno brasileiro a produzir vidro plano. Pronto desde outubro, o forno teve um aumento de 50% na capacidade, de 600 para 900 toneladas/dia. Com quatro fábricas, a Cebrace tem outro investimento, de 140 milhões para uma nova unidade, com capacidade de mais 900 toneladas por dia. O forno deve ficar pronto no quarto trimestre de 2011. A concorrente Guardian, que tem fábrica em Porto Real (RJ) segundo fontes do setor, investiu US$ 150 milhões em outra já em operação, em Tatuí (SP) desde meados de 2009. Será inaugurada oficialmente nesta semana.

Os fabricantes de vidros impressos também estão otimistas. A União Brasileira de Vidros (UBV) investiu R$ 70 milhões (US$ 35,5 milhões) em 2009 em novo forno e criou uma linha econômica que já responde por 20% das vendas. Mais leve e mais fino, é 5% mais barato. Segundo Sérgio Minerbo, presidente da UBV, por enquanto, a demanda gerada pelo plano habitacional do governo é pequena, pois maior parte do que foi contratado ainda não chegou à fase de acabamento. O aumento das vendas está vindo da autoconstrução. A companhia já trabalha a 100% da capacidade e considera a possibilidade de reativar um forno em meados de 2011. Ele estima aporte de R$ 25 milhões (US$ 13,9 milhões) para retomar o forno, elevando a capacidade de produção em 40%.

O ciclo de expansão chegou às empresas transformadoras. "O mercado está aquecido, principalmente no segmento popular", diz José Antônio Passi, da Divinal Vidros, que fabrica, distribui e processa vidro e tem uma fábrica em São Paulo e em Minas Gerais.