03/08/18 11h40

Demanda por caminhões cresce após a greve de maio e empresas se preparam

Na contramão de outros setores da indústria, as montadoras já retomaram os volumes de antes da paralisação e os investimentos em renovação de frotas e atualização de fábricas continuam

DCI

*Ricardo Bomfim

Com efeitos nefastos para a maioria dos setores da indústria, a greve dos caminhoneiros acabou, ao contrário, aumentando a demanda por caminhões. Depois do tombo de maio, os volumes vendidos já retornaram aos patamares anteriores à paralisação.

A analista da Tendências Consultoria, Isabela Tavares, ressalta que em julho foram vendidas mais de 6 mil unidades, um crescimento de 47% em relação a julho do ano passado. “A demanda por caminhões está mais forte em 2018 e isso está se sustentando no segundo semestre.”

No lançamento de sua nova geração de caminhões na América Latina, nesta quinta-feira (2), a Scania atribuiu o aumento da demanda a especulações das transportadoras. “A demanda aumentou depois da greve, com muitas compras das transportadoras antecipando um crescimento futuro na procura”, avalia o diretor comercial da Scania Brasil, Silvio Munhoz.

Uma outra movimentação interessante que ocorreu após a paralisação de maio foi a busca dos embarcadores por cotações de quanto sai ter um caminhão próprio. Isso ocorreu porque o tabelamento do frete aumentou muito os preços para os empresários. “Há um movimento enorme, mas quando esses executivos descobrem o preço dos implementos e os custos dos motoristas, costumam desistir”, diz Munhoz.

Isabela ressalta que as expectativas das transportadoras ainda são de uma retomada econômica mais forte no futuro. Apesar das frequentes revisões para baixo em indicadores como o Produto Interno Bruto (PIB) por economistas, os empresários do setor não acreditam que a desaceleração irá durar para sempre.

Munhoz, comenta que os cortes nas projeções para o PIB simplesmente não impactaram os negócios da montadora. “Em vez de estarmos preocupados com a falta de demanda, estamos brigando para entregar o que os clientes querem”, afirma.

De acordo com ele, um evento que pareceria muito negativo para a empresa, que foi a elevação dos juros na Argentina de 27% para 40% ao ano em maio, gerou um efeito colateral positivo, que foi a possibilidade de se vender mais no Brasil. Apesar disso, a Scania exporta 70% da sua produção atualmente. Os principais destinos são a América Latina, partes da Ásia, Oriente Médio, além do sul da África. Até o fim de 2018, Isabela diz que a Tendências projeta expansão de 35% nas vendas de caminhões, para 70,3 mil unidades. Contudo, mesmo se esse volume se confirmar, ainda estará 48% abaixo do que registrado em 2014, antes da crise econômica, e 59% abaixo de 2011, quando o setor teve seu melhor ano no País e vendeu 172,6 mil unidades.

Balizam as expectativas otimistas o desempenho do agronegócio e do varejo, que puxam as vendas de caminhões, e a necessidade de renovação da frota. A especialista lembra que as transportadoras apertaram os cintos durante a crise e que, por isso, muitos veículos circulam com mais de um milhão de quilômetros rodados.

Acerca do crédito, Isabela aponta que as linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estão bem mais fracas do que antes, abrindo espaço para outras fontes como Crédito Direto ao Consumidor (CDC) e leasing. “A troca da [Taxa de Juro de Longo Prazo] TJLP para a [Taxa de Longo Prazo] TLP deixou os juros do BNDES mais alinhados às taxas praticadas pelo mercado, mas as outras fontes cresceram.”

Na opinião da analista, a queda na inadimplência e nos juros ajuda na contratação de crédito pelas transportadoras. A inadimplência para aquisições de bens totais, englobando automóveis, caminhões e outros tipos de bens duráveis, fechou junho em 1,8%, 1,9 ponto percentual abaixo do registrado no mesmo período do ano passado. Já o juro médio para aquisição de bens totais está em 15,9%, abaixo dos 19% do ano anterior.

Investimento

No evento em que lançou sua nova geração de caminhões, a Scania anunciou que foram investidos 2 bilhões de euros globalmente nos veículos ao longo de 10 anos. No Brasil, a fabricação das novas unidades conta com um investimento de R$ 2,6 bilhões na planta de São Bernardo do Campo (SP) de 2016 a 2020. Segundo o presidente da Scania na América Latina, Christopher Podgorski, R$ 1,5 bilhão deste total já foi investido. “Foi necessário adaptar os veículos europeus para rodarem na América Latina”, argumenta.

Além disso, foi construída uma nova fábrica de solda de cabinas em São Bernardo.

Entre as novidades está que todos os motores virão com a tecnologia XPI e haverá uma opção de caminhão com potência de 540 cavalos. Além disso, a empresa está lançando o único airbag lateral do mundo, com o objetivo de reduzir as mortes por tombamento em acidentes de trânsito.