18/09/12 16h38

Empreendedor estrangeiro se rende aos atrativos brasileiros

Brasil Econômico

Boa performance do país durante a crise e aumento da massa consumidora atraem empresários de fora

Com uma performance relativamente melhor que a de muitos países durante a crise financeira internacional, o Brasil entrou no radar dos empreendedores estrangeiros. Embora não haja um mapeamento oficial do número de empresas abertas, o Ministério do Trabalho e Emprego informou que no primeiro semestre de 2012 os estrangeiros pessoa física aplicaram R$ 107,80 milhões no Brasil, uma alta de 32% sobre os R$ 81,79 milhões registrados no mesmo período de 2011.

De acordo com o professor de Empreendedorismo do Ibemec, Eduardo Bonomo, o que atrai esses empreendedores é a situação em que o Brasil se encontra em relação a outros países. “É um local atraente, uma economia que está aquecida, trabalhou com pleno emprego um bom período durante a crise. Enfim, é uma conjuntura favorável para a abertura de empreendimento”, comenta.

Um dos casos de estrangeiros que vieram ao país no recente boom é o do sueco Svante Westerberg. Em 2004, ele abriu uma consultoria, depois tornou-se sócio da Braspag - empresa comprada pela Cielo - e então fundou a MaxiPago, que oferece soluções de pagamento com padrões de processamento global. Westerberg conta que a maioria das pessoas subestima a dificuldade de fazer negócios no Brasil. Ainda assim, a demanda e oportunidades oferecidas pelo país o tornam atrativo. O sueco estabeleceu uma meta agressiva de ter 30% do mercado de soluções de pagamento para e-commerce até o final de 2013.

Outro sueco que veio se aventurar nos trópicos foi Johan Jonsson, fundador do Agente Imóvel, portal que disponibiliza informações sobre o mercado imobiliário, além de busca para compra e aluguel de imóveis. Após tirar um ano sabático, Jonsson terminou sua viagem no Brasil. E decidiu voltar para morar no país.

Quando se mudou, passou o primeiro ano estudando português e o mercado financeiro local. Com experiência em internet e corretoras, o sueco percebeu que as informações sobre imóveis para aluguel estavam disponíveis apenas em jornais; além disso, não havia fontes para comparação de preços. Em 2008, ele montou o portal Agente Imóvel ao estilo “Vale do Silício”: em sua própria casa. Hoje, a empresa tem 14 funcionários e está perto de bater um milhão de usuários por mês.

Mas não foi tão fácil. “A demora para abrir conta bancária, uma empresa, dificulta. E sendo estrangeiro, o tempo dobra. Para mim foi mais fácil porque casei com uma brasileira”, lembra. “Mas quando estava esperando a identidade brasileira, o sobrenome do meu pai estava  errado. Demorou um ano e meio para refazer o documento e sem isso não se podia abrir a empresa”.

De acordo com Paulo Melchor, consultor do Sebrae-SP, há duas formas do empreendedor estrangeiro entrar no Brasil. A primeira é abrir uma filial, após obter autorização do governo, e a segunda é obter um visto permanente e abrir uma empresa brasileira - ou seja, que tenha sede no Brasil e seja constituída sob a legislação nacional. Melchor também cita a concessão de vistos permanentes para estrangeiros que venham trabalhar em cargos de chefia.

O francês Jean-Luc Senac se enquadra nesse caso. Há nove anos, quando estava empregado por uma empresa francesa no país, Senac decidiu tornarse seu próprio chefe. “Quando cheguei na idade dos 30, pensei o que eu queria fazer da vida. Eu já tinha vontade de montar uma empresa, encontrei aqui uma oportunidade”. Segundo ele, o único obstáculo a maisque os estrangeiros têm para abrir uma empresa no Brasil é conseguir o visto. Como já possuía os documentos, não teve tantos problemas. Assim, abriu a Saúde Service no final de 2003. Com um crescimento médio de 63% ao ano, é focada em meios de pagamentos no setor de saúde. A experiência deu tão certo, que ele decidiu fundar a Evolucard, que vincula cartão de crédito ao celular.

Como Senac, diversos estrangeiros vêm ao Brasil. De acordo com dados do MTE, entre janeiro e junho de 2012, foram concedidas32.913 autorizações de trabalho a estrangeiros, a maioria dos Estados Unidos e para a região Sudeste. Porém, ainda faltam incentivos, fato que é notado por todos os entrevistados.

Como resume Westerberg, “o Brasil está indo muito bem, apesar de si mesmo. Imagine se houvesse políticas que estimulem o investimento. O Brasil passaria a China”. ■