17/10/18 11h31

Empresas brasileira e canadense desenvolverão teste inovador para hepatite C

A DGLab domina a metodologia de coleta de sangue em papel filtro e armazenamento em cartão, e a Custom Biologics desenvolveu e patenteou a tecnologia DASL RAPID, de alta precisão analítica

PEGN

A DGLab, startup incubada no Supera Parque de Inovação Tecnológica de Ribeirão Preto, associou-se à canadense Custom Biologics, em Toronto, para juntas desenvolverem um teste de ácido nucleico (NAT) simples e de baixo custo para o diagnóstico da hepatite C viral.

A proposta dos parceiros foi selecionada em edital da FAPESP e do National Research Council Canada (NRC). Para a implementação do teste a DGLab terá apoio da Fundação, no âmbito do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), e a Custom Biologics contará com recursos do Canadian International Innovation Program (CIIP).

“Essa parceria possibilitará que a Custom Biologics e a DGLab desenvolvam um NAT para a hepatite C rápido e eficaz em termos de custo, utilizando amostras de sangue”, afirma Daniel Mamelak, CEO da Custom Biologics.

As duas empresas têm expertises que se complementam. “A DGLab domina a metodologia de coleta de sangue em papel filtro e armazenamento em cartão”, explica Daniel Blasioli Dentillo, sócio da startup brasileira. A Custom Biologics desenvolveu e patenteou a tecnologia DASL RAPID, de alta precisão analítica, cuja aplicação não exige um ambiente de laboratório. “O teste pode ser executado no local, mesmo em regiões que não tenham instalações médicas”, explica o CEO da empresa canadense.

Atualmente, os testes de hepatite C seguem, basicamente, duas opções técnicas, de acordo com Mamelak. “Os imunoensaios são rápidos e de baixo custo, mas não têm precisão para subsidiar decisões sobre cuidados com pacientes. As tecnologias baseadas no método de reação em cadeia da polimerase [PCR], por sua vez, têm excelente sensibilidade e desempenho, mas são demoradas e caras”, ele compara.

A expectativa é demonstrar, com o apoio do PIPE da FAPESP, que o NAT para hepatite C é mais fácil de ser executado, gera resultados num período de tempo mais curto e a um custo menor do que o PCR, credenciando o teste para transformar-se em rotina de saúde pública.

A eficácia da plataforma diagnóstica será testada com a utilização de amostras clínicas do Instituto Adolfo Lutz (IAL), sublinha Mamelak. “Assim, poderemos comparar nossa tecnologia com o PCR, o teste padrão ouro atual”, diz ele. O IAL, vinculado à Secretaria Estadual da Saúde, opera como Laboratório Central de Saúde Pública, atuando nas áreas de Vigilância Epidemiológica, Sanitária e Ambiental na prevenção, controle e eliminação de doenças.

“Vislumbramos dois mercados principais. Para um grande laboratório como o IAL, o DASL RAPID permite executar um grande número de amostras de teste rapidamente, com precisão e a um custo muito menor do que os métodos atualmente empregados”, afirma Mamelak. E acrescenta que o DASL RAPID também pode ser utilizado na realização de testes em regiões remotas, onde tecnologias que exigem pessoal treinado não estão disponíveis.

Apesar de o teste para o diagnóstico da hepatite C viral em desenvolvimento pelas duas empresas ser baseado em uma nova tecnologia isotérmica de amplificação de ácido nucleico protegida por patente, Mamelak reconhece que tecnologias concorrentes estão em desenvolvimento. “No entanto, por meio da colaboração com a DGLab no Brasil, devemos ser os primeiros a desenvolver com sucesso um NAT rápido para a hepatite C viral.”

O Brasil, aliás, será o primeiro mercado global a testar e validar essa nova tecnologia. “Acreditamos que a Custom Biologics pode ajudar a DGLab a emergir como líder em NATs rápidos e econômicos para o HCV [vírus que causa a hepatite C] e muitos outros organismos.”

TESTE DE CONCEITO

A DGLab foi concebida em 2014, quando Dentillo concluiu seu pós-doutorado na Faculdade de Medicina da Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP) com a ideia de criar uma empresa para desenvolver inovação em diagnóstico envolvendo genética. “Associei-me a Dante Gavio, que tinha concluído o doutorado na mesma área, e submetemos proposta ao Supera Parque e ao PIPE fase 1 [de pesquisa de viabilidade técnica do projeto] da FAPESP”, ele diz.

A proposta aprovada pela FAPESP propunha o teste de conceito de um método diagnóstico barato para hepatite B que integrasse desde o armazenamento do sangue coletado pelo próprio paciente e o transporte de amostras em cartões até o exame do material para a identificação e quantificação de ácido nucleico – uma espécie de marcador da doença.

Concluído em maio de 2017, o projeto contou com o apoio da Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto, do Hospital de Clínicas da USP e do Instituto Adolfo Lutz, que forneceram as amostras e os equipamentos para a realização de exames.
“O problema é que os equipamentos disponíveis não estavam prontos para ser utilizados em grande escala. Além disso, as técnicas de reação química disponíveis permitiam identificar o vírus, mas não classificá-lo”, conta Dentillo. “Precisávamos de equipamentos mais potentes, de reagentes mais eficazes e de parceiros para o seu desenvolvimento.”

A solução apareceu na BIO Latin America 2016, feira de negócios e de network que reúne indústria, empreendedores e pesquisadores de todo o mundo, realizada em São Paulo. “Foi lá que conhecemos a Custom Biologics e constatamos que as tecnologias eram complementares. Quando a FAPESP e o NRC lançaram o edital, formalizamos a parceria”, afirma Dentillo.
A Custom Biologics tem experiência de mais de uma década no desenvolvimento, validação e implementação de ensaios bioanalíticos e imunológicos e na caracterização e avaliação de testes clínicos de moléculas, biomarcadores, entre outros.

O acordo de propriedade intelectual já firmado entre as duas empresas contempla a realização de testes para o vírus da hepatite C. “O projeto encerra em 2020, mas o desejo das partes é estender a parceira para outros projetos”, diz Dentillo.

“Já temos vários projetos futuros em mente. Desenvolvemos ensaios protótipos usando a mesma tecnologia para identificar rapidamente os vírus zika, chikungunya e dengue em amostras biológicas humanas. A parceria com a DGLab e o IAL abrirá o caminho para o desenvolvimento e a validação de muitos outros NATs mais rápidos e econômicos que poderiam ajudar a reduzir as taxas de fatalidade de muitas doenças e a carga de custos nos sistemas de saúde em muitos países”, afirma Mamelak.