28/10/08 15h54

Empresas capitalizadas mantêm investimentos

Valor Econômico - 28/10/2008

A crise financeira global se agravou fortemente nas últimas semanas, mas várias empresas ainda não tiveram os seus negócios afetados pela turbulência. Em evento promovido ontem pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), em Campinas, várias companhias relataram ao Valor não ter percebido nenhuma redução da demanda, e houve até quem dissesse que o momento é bom para comprar ativos, que ficaram mais baratos em dólar devido à desvalorização do câmbio. Além disso, as empresas que têm dinheiro em caixa ou só operam com recursos próprios conseguiram passar ao largo da contração do crédito. Para 2009, porém, há muita cautela, que se traduz em expectativas mais modestas de faturamento e em alguma moderação no ritmo de investimento. Empresa que fabrica carrocerias e contêineres, a Embark não viu os negócios piorarem nas últimas semanas. Segundo o sócio-gerente da companhia, Saulo Duarte Pinto Jr., a empresa tem uma boa carteira de pedidos até o começo do ano que vem, tendo inclusive fechado um contrato importante com uma grande empresa há 15 dias. Desde que a crise recrudesceu, Pinto não precisou recorrer a empréstimos bancários, de modo que a turbulência ainda não atingiu os seus negócios. "O meu medo é o que vai ocorrer a partir do começo do ano que vem", afirma ele. O presidente para a América Latina da Actaris, Fernando Perches, diz que a empresa, fabricante de medidores de energia elétrica, água e gás, ainda não foi afetada pela crise. Como só trabalha com recursos próprios, a piora nas condições de crédito não causou problemas. Assim como Pinto Jr., porém, Perches mostra cautela em relação a 2009. A empresa, em fase de definição do planejamento estratégico para o ano que vem, pode reduzir investimentos não estratégicos, afirma ele. O diretor-financeiro da Dell, Hans Lochs, diz que a empresa ainda não reviu os seus planos de investimento para 2009, apesar da crise global. Segundo Lochs, a demanda de clientes corporativos e pessoa física não diminuiu, pelo menos por enquanto. A alta do dólar, porém, afetou a empresa, que tem cerca de 90% de seus custos direta ou indiretamente dolarizados. Na CPFL Energia, a crise ainda não levou a empresa a rever planos de investimento, segundo o vice-presidente financeiro, José Antônio de Almeida Filippo. De acordo com Filippo, os projetos da CPFL têm um horizonte de longo prazo e contam com financiamento do BNDES. Até o momento, o consumo de energia industrial e residencial não foi afetado, afirma ele, ressaltando, porém, que o clima entre os empresários é de "cautela".