06/12/11 17h28

Entre Brics, Brasil foi o que distribuiu mais riqueza

Brasil Econômico

Estudo da OCDE comprova que dentre os emergentes, país foi o único que conseguiu melhorar vida da população 

A sigla Brics (originalmente Bric) foi cunhada pelo economista britânico Jim O’Neill em um estudo publicado em 2001, para mostrar quais países emergentes tinham potencial para se destacar na década seguinte. Dez anos depois, a previsão se concretizou. As nações da sigla (Brasil, Rússia, Índia e China), hoje cinco com a entrada da África do Sul em abril deste ano, mostraram que tinham potencial para crescer mesmo em tempos adversos. O Brasil, no período, não registrou a maior expansão do PIB, mas foi o único que conseguiu ampliar a distribuição de renda. É o que mostra estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que aponta que a desigualdade entre ricos e pobres recuou no país nos últimos 15 anos. No entanto, a concentração de renda—medida pelo coeficiente Gini — continua sendo uma das maiores do grupo, perdendo só para a África do Sul.

O estudo da OCDE mostra ainda que os 20% mais pobres no Brasil viram sua renda crescer, em média, 6,6% ao ano na década de 2000, percentual três vezes superior ao crescimento dos 20% mais ricos, de 1,8% ao ano. Isso representa a aceleração de um processo iniciado nos anos 1990. “Estamos trilhando no Brasil um caminho diferente dos EUA, onde cerca de 40 milhões de pessoas tiveram perda de renda para o nível de pobreza nos últimos dez anos”, afirma o professor da universidade americana Duke, Wagner Kamakura. “Na China e na Índia, em contrapartida, o crescimento acontece com forte concentração de renda.”

Para o vice-diretor da Faculdade de Economia da Faap, Luiz Alberto Machado, a redução da desigualdade social no país vem acontecendo graças aos programas de distribuição de renda “forçada”. “Mas não vamos conseguir manter a velocidade que a presidente Dilma (Rousseff) gostaria para os próximos anos. A aceleração supõem crescimento maior da economia, o que não está se projetando”, explica. Para Machado, a maior preocupação no momento deveria ser não acelerar a distribuição de renda, mas consolidar o que já foi feito. Adriana Erthal Abdenur, coordenadora geral do Centro de Estudos e Pesquisas do Brics, concorda com a tese. Para ela, a nova classe média ainda é muito frágil às oscilações econômicas, e o governo não dá amostras de que vai investir adequadamente neste estrato da população.

“A transferência ajuda a melhorar indicadores de pobreza e desigualdade, mas não promove mudanças estruturais de longo prazo, que dependem de investimentos maiores em educação e capacitação. E neste quesito, estamos perdendo uma grande janela de oportunidade, ao contrário do que Índia está fazendo, por exemplo”, explica. Paralelamente a essa realidade, é exatamente a classe C que vem segurando o consumo. “Estamos dependendo da ascensão da nova classe média por meio do crédito, o que é muito perigoso.”