27/08/12 15h43

Escola bilíngue reúne alunos de 24 países

O Estado de São Paulo

Em Alphaville, na Região Metropolitana de São Paulo, brasileiros convivem com filhos de funcionários de multinacionais que vieram viver aqui; imersão no inglês é total até os 4 anos de idade e depois as aulas são dadas também em português

Charlie Shull, de 5 anos, é uma das seis crianças que se sentam em volta da professora para a aula de leitura. O livro do dia é Como Pegar uma Estrela e está escrito em português. Charlie se mudou para o Brasil no mês passado e ainda não entende nada da língua. Mas vai compreender a história. Quem vai lhe ajudar são os cinco amigos: um indiano, um guatemalteco, um argentino, uma americana e uma brasileira.

À medida em que a professora narra o texto, os amigos fazem uma tradução detalhada. "The boy wanted a star only for him", explica Noah, o argentino. "In Portuguese, star is estrela", fala Ana Paula, a brasileira. E assim, página após página, Charlie se diverte e aprende português. Daqui a alguns meses - garantem os amiguinhos com mais tempo de experiência -, ele não mais precisará de ajuda.

Em comum, o fato de serem filhos de executivos - funcionários de multinacionais que foram transferidos para o Brasil e ficarão por aqui algum tempo a trabalho. O encontro dessas crianças na Escola Internacional de Alphaville se dá por duas razões: o fato de o colégio ser bilíngue e a localização privilegiada, onde se concentram os escritórios das grandes empresas.

Por ali, incluindo os alunos do ensino fundamental e médio, há estudantes de 24 nacionalidades. As aulas seguem um currículo de imersão total em inglês até os 4 anos e, posteriormente, instrução em ambas as línguas: inglês e português.

Os 20 americanos ainda são a maior parte dos estrangeiros, mas já há representantes de nacionalidades mais inusitadas em solos tupiniquins, como um iraniano e o pequeno Ritwij Ghosh, o garoto indiano de 5 anos de idade que estuda na sala de Charlie.

Em que língua você vai falar comigo? Era isso que dizia o rosto de Ritwij. Ele é fluente em quatro línguas: as duas de seu País natal, o inglês e o português. Também arranha no espanhol. As três últimas ele aprendeu nos últimos dois anos, quando chegou ao Brasil. "O meu português é o melhor de casa", gaba-se.

Filho único, Ritwij está no Brasil porque o pai veio transferido da Índia. E, como a maioria dos estrangeiros da escola, não tem um futuro definido. Pode ser que fique muito tempo por aqui ou que volte à Índia em breve. Mas, contador de história como é, ele não se importa. "Por enquanto, quero morar um pouquinho em cada país. Depois que eu crescer, vou para outros planetas", diz com convicção e português perfeito.

Realidade. O papo com os mais velhos tem menos fantasia. No caso deles, a adaptação é mais complexa porque envolve, além do aprendizado da língua - uma tarefa que fica mais difícil conforme aumenta a idade -, uma compreensão do currículo local.

Na primeira aula de geografia que assistiu no Brasil, o americano Ryan Zele, de 15 anos, cometeu uma "gafe". À pergunta sobre quantos são os continentes, ele não hesitou: "Sete". Todos riram. Então Ryan explicou que os EUA dividem o continente americano em dois: a América do Norte e a América Latina. "Lá, aprendi que sou americano. Aqui dizem que sou estadunidense e os brasileiros também são americanos."

Apesar de não concordar muito com essa interpretação à brasileira, Ryan relevou. Afinal, é para essa parte da América que o padrasto veio, fugindo da crise. Há dois anos no Brasil, já garantiu seu espaço no setor de logística e transportes. "Como aqui não há problemas na economia, os negócios vão muito bem."

De fato, para quem estuda ali, a crise é mesmo problema dos outros continentes. As mensalidades chegam a R$ 3 mil e o número de alunos cresce a cada ano: quando nasceu, em 1999, tinha 340 matriculados. Hoje são 670.