24/02/12 11h47

Estrangeiro investe US$ 9,7 bi no País em janeiro

O Estado de S. Paulo

Investimento de US$ 5,4 bilhões em produção e US$ 4,3 bilhões na Bolsa de Valores cobre o déficit externo brasileiro, de US$ 7,1 bilhões

A enxurrada de dólares para o Brasil neste início de 2012 está sendo mais que suficiente para cobrir o gasto maior de consumidores e empresas brasileiros com bens e serviços estrangeiros. Dados apresentados ontem pelo Banco Central mostram que o País recebeu US$ 5,4 bilhões em investimento direto no setor produtivo, recorde para meses de janeiro e 84% maior que no mesmo período de 2011.

A volta dos estrangeiros à Bolsa de Valores garantiu mais US$ 4,3 bilhões. Além disso, o País segue recebendo recursos via empréstimos, emissão de títulos e aplicações em renda fixa. Essa entrada de recursos explica por que governo e mercado financeiro viram com tranquilidade o déficit recorde de US$ 7,1 bilhões nas transações de bens e serviços com o exterior em janeiro.

Para o BC, o resultado negativo não preocupa porque indica recuperação do consumo, da renda e do investimento no País e está sendo plenamente financiado por capital estrangeiro, principalmente por aplicações de longo prazo.

"O perfil do déficit atualmente é diferente. Nas décadas de 80 e 90, boa parte do resultado negativo era gerado pelo pagamento de juros da dívida externa. Essa conta precisava ser paga independentemente do ciclo econômico", afirmou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel.

Estabilidade. Apesar de recorde em valores absolutos, o déficit segue estável quando comparado ao Produto Interno Bruto (PIB) há pelo menos dois anos. Hoje, o saldo negativo do País acumulado em 12 meses corresponde a 2,2% da soma dos bens e serviços produzidos no mesmo período. "Em outros carnavais, já tivemos déficits da ordem de 4% do PIB", afirmou Maciel.

Para o ano, o BC mantém a previsão de déficit superior ao investimento direto, fonte de financiamento considerada mais confiável. Estima, porém, que empréstimos e investimentos em ações e renda fixa ajudarão a cobrir o restante do resultado negativo.

A consultoria LCA também diz que as condições de financiamento continuarão favoráveis ao Brasil, e devem fazer com que o dólar feche o ano em torno de R$ 1,65.

Viagens. O déficit recorde de janeiro foi motivado, principalmente, pelo resultado da balança comercial, pois as importações superaram as exportações. Pesou também o gasto de US$ 2 bilhões de turistas brasileiros em viagens internacionais, segundo maior da série iniciada em 1947, atrás apenas do verificado em julho do ano passado.

O resultado só não foi pior porque houve queda de quase 50% nas remessas de lucros e dividendos em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o BC, reflexo da desaceleração da economia no final de 2011.

Para fevereiro, o BC estima um resultado negativo menor, de US$ 2 bilhões nas transações correntes, por causa do aumento das exportações e da queda nas remessas de lucros até o momento. O buraco deve ser coberto com folga por investimentos estrangeiros diretos de US$ 3,2 bilhões. O País também vai contar com recursos para ações e renda fixa, embora em volume menor que em janeiro.