27/12/11 16h19

Etanol passa a ser opção no mundo

O Globo

EDITORIAL

Fim dos subsídios nos Estados Unidos impulsionará o mercado

O etanol era chamado de fonte alternativa de energia tempos atrás. Era uma opção para substituir a gasolina em momentos de escassez. Nos anos 70, em função de dois choques no mercado do petróleo, tendo como pano de fundo motivações políticas, o Brasil lançou um programa para produção de álcool combustível em larga escala. Na época, o país era altamente dependente do petróleo importado, pois o que se produzia nem chegava a abastecer 15% do mercado nacional. O Proálcool esbarrou em vários obstáculos, passando até por descrédito junto à população. Mesmo assim o etanol mostrou na prática ser um combustível adequado para substituir a gasolina, de forma integral ou parcialmente.

A adição do álcool anidro à gasolina começou a ser feita não apenas por questões estratégicas, mas também pelo lado ambiental. O etanol é fonte de energia limpa e renovável, e contribui para melhorar o desempenho dos motores de veículos leves.

Os custos de produção decresceram no Brasil, com os avanços tecnológicos e os saltos no tamanho das empresas do setor. As montadoras, por sua vez, desenvolveram no Brasil motores capazes de utilizar gasolina ou álcool, ou qualquer mistura dos dois combustíveis. Assim, a demanda por etanol cresceu de maneira exponencial, a ponto de a oferta não acompanhar tal expansão. O resultado é que os preços do álcool hidratado temporariamente não estão competitivos em relação à gasolina na maior parte do país, devido a uma política interna que evita ajustes nas cotações de alguns derivados de petróleo. No entanto, como a maioria dos automóveis sai das fábricas equipados com motores flex, a "escassez" de etanol não tem sido um problema para os consumidores. O governo, por precaução, também reduziu o percentual de álcool anidro à gasolina.

Apesar das dificuldades na oferta interna, o Brasil exportou bem mais de 1 bilhão de litros de etanol em 2011. Para regular o mercado doméstico, chegou a importar o produto dos Estados Unidos.

Este é o cenário ideal para que o etanol se transforme efetivamente em uma commodity no mercado internacional. À medida que os dois maiores produtores (Estados Unidos e Brasil) negociarem o etanol sem barreiras comerciais expressivas, os demais países se sentirão mais seguros ao utilizar com substituto da gasolina, em parte ou integralmente.

O aumento da produção de etanol no Brasil depende de ampliação do plantio de cana de açúcar em áreas consideradas degradadas por pastagens exauridas. Juntamente com a produção de álcool combustíveis deverá crescer a oferta de açúcar, o que é importante para o mundo, cuja demanda de alimentos só vem aumentando com a inclusão de novos consumidores nos países de economias emergentes.

A campanha de convencimento que há anos a Unica — associação que reúne os produtores de açúcar e álcool de São Paulo e estados vizinhos — desenvolve deu resultado nos Estados Unidos e o congresso americano não renovou as barreiras comerciais contra o produto importado. Brasil e EUA só têm a ganhar com essa liberalização. E o resto do mundo agradecerá.