25/06/12 14h42

Evolução de redes atrai a atenção de fornecedores

Valor Econômico

Atendida a totalidade da população urbana com o serviço de celular, as operadoras brasileiras começarão a ajustar suas estratégias de negócio de olho nas novas tendências envolvendo a comunicação entre máquinas, conhecida no jargão do setor como "machine-to-machine", ou M2M. As aplicações mais conhecidas desse serviço são o rastreamento de veículos e a leitura digital automática de serviços de água e energia elétrica, sem a necessidade funcionários para fazer a coleta de dados nos domicílios.
 
Essa é uma das visões de mercado que a associação GSMA pretende trazer para o Brasil, ao instalar seu primeiro escritório no país. A entidade, que reúne as principais operadoras de celular e fabricantes no mundo, quer dar uma atenção especial ao mercado brasileiro que, com 245 milhões de dispositivos móveis, responde por 40% do total de conexões registradas em toda a América Latina.
 
O representante local da associação será Amadeu Castro, que concedeu ao Valor sua primeira entrevista depois de ter assumido a responsabilidade de montar o escritório no Brasil. Em sua opinião, quem já teve acesso ao celular poderá, agora, optar pela evolução dos serviços, com a migração para os planos de terceira e quarta geração (3G, 3G + e 4G). Com isso, sua expectativa para os próximos anos é de que a base de dispositivos móveis em operação cresça acima dos patamares atuais, com a comunicação entre máquinas, também conhecida como "internet das coisas".
 
O uso de M2M tem sido puxado por países asiáticos, como Coreia do Sul e China. Lá, essa tecnologia vem sendo usada para aperfeiçoar desde leitura do consumo de energia nas residências até sistemas de segurança de caminhões que transportam cargas e monitoramento da frota de ônibus públicos. A GSMA promove, amanhã e quarta-feira, evento em São Paulo para discutir o tema com empresas e governo.
 
"Para nós essa é a próxima fronteira. Com M2M não se precisa, necessariamente, de 4G. Basta liberar as frequências usadas em aplicações de menor velocidade, como 3G", afirmou Castro.
 
Isso acontece, por exemplo, com os chips de celular implantados nos medidores inteligentes de consumo de energia. A distribuidora de energia precisa recolher informações periodicamente. São poucos dados por domicílio, porém partem de um número muito grande de unidades, disse Castro.
 
Foram registrados neste ano 73 milhões de unidades de consumo de energia no país. Entre os resultados esperados está a gestão mais eficiente das cargas de energia consumida e possibilidade de oferecer descontos para os clientes que evitarem o consumo nos horários de pico.
 
Além do uso de medidores inteligentes - que já são testados pelas distribuidoras e contam com estudos do governo sobre a sua regulamentação - existem diversas aplicações de M2M ligadas a produtos e serviços associados aos setores de saúde, educação e segurança.
 
"Existe uma infinidade absurda de novas aplicações de M2M. Podemos fazer um paralelo com as iniciativas da Apple, do Android e da Microsoft, que fornecem as ferramentas, e as pessoas estão livres para criar. Nesse campo, a imaginação é o limite", ressaltou o diretor da GSMA.
 
Para Castro, as escolhas feitas pelo Brasil no mercado de telecomunicações têm influência preponderante sobre os países vizinhos. Portanto, o desenvolvimento de sistemas M2M pode atrair o restante da América Latina. "O que o Brasil faz, os outros prestam atenção, pela pujança da economia e tamanho do nosso mercado", disse. Essa percepção, segundo ele, foi decisiva para trazer a GSMA.
 
A estratégia é aplicada especialmente ao aspecto de ganho de escala na produção de equipamentos. Castro ressaltou que a Colômbia em breve realizará o leilão das frequências de 4G. Segundo ele, as operadoras e técnicos do governo colombiano acompanharam todo o processo no Brasil para o leilão realizado neste mês e continuam atentos aos desdobramentos.
 
Para o país vizinho, o impacto favorável de se fazer escolhas técnicas alinhadas às do Brasil está no efeito de redução do custo de equipamentos e terminais de acesso, devido ao maior volume.