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Fiscalização e busca de eficiência tiram força da terceirização

Valor Econômico - 25/08/2008

Adquirida em outubro do ano passado pela holandesa KPN, a Getronics contratou durante o primeiro semestre de 2008 cerca de 120 programadores e consultores na área de tecnologia de informação e comunicação. A admissão dos profissionais foi resultado de um acordo assinado pela Getronics com o Ministério do Trabalho. O Ministério do Trabalho deflagrou no primeiro semestre, em São Paulo, um programa específico contra a terceirização que, segundo dados da superintendência local, garantiu o registro de pouco mais de 1,2 mil trabalhadores e gerou oito autuações por falta de registro. Atualmente há mais de 80 processos de fiscalização em andamento. O segmento de TI foi um dos primeiros a ser fiscalizados. A Getronics faz parte de um universo de empresas que recentemente converteram trabalhadores terceirizados a empregados com carteira assinada com base na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Por motivos diversos e num movimento aparentemente inverso à tendência de terceirização que tomou corpo a partir da década de 90, outras grandes companhias como Brasil Telecom e Avis, locadora de veículos, integraram à sua folha de salários funcionários do call center. Desde o último trimestre do ano passado a Brasil Telecom trouxe para dentro de seu grupo mais de 10 mil atendentes de call center. A companhia fechou o primeiro semestre com um total de 17,82 mil trabalhadores, aumento de 203,8% em relação ao mesmo período do ano passado. O aumento foi principalmente resultado da internalização do call center da Brasil Telecom em dezembro de 2007 e do call center do Internet Group (iG), o segmento de internet da Brasil Telecom, em 2008. Segundo o diretor de gestão e recursos humanos da empresa, Giovani Foragi, a alteração deve-se ao interesse da Brasil Telecom em melhorar a eficiência, com maior produtividade das vendas e o grau de satisfação no atendimento. Na Avis houve a contratação direta dos 30 funcionários do call center que eram terceirizados até há cerca de um ano. Segundo o presidente da empresa, Afonso Celso de Barros Santos, a iniciativa fez dobrar a despesa com pessoal de call center, mas não se restringiu à simples internalização. O atendimento, que antes funcionava somente de segunda a sexta até às 20h, passou a operar sete dias por semana durante 24 horas. O volume de operações da companhia aumentou e a locadora dobrou a equipe para 60 atendentes. Os exemplos da Getronics, Brasil Telecom e Avis não podem ser considerados exceção. O diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socio-Econômicos (Dieese), Clemente Ganz Lucio, diz que o processo de expansão do trabalho terceirizado começou a sofrer mudanças recentemente por três razões principais: aumento da fiscalização por órgãos de governo, perda de eficiência econômica pelas empresas e a perspectiva de crescimento sustentado da economia. Ninguém nega, porém, que a terceirização é uma tendência crescente e irreversível não só no Brasil como em todo o mundo. Recente pesquisa do Ipea mostra que dos 98 milhões de funcionários contratados pelas corporações transnacionais atualmente, 39,3 milhões (40%) exercem atividades terceirizadas. A idéia não é acabar com a terceirização, mas corrigir exageros e repensar a forma de contratação de forma mais cuidadosa.