25/08/08 14h14

Ford adota sisal no Brasil e vai exportar experiência

Valor Econômico - 25/08/2008

Quatro anos de estudo e um bocado de milhões de reais vão fazer com que a Ford coloque no mercado automóveis com peças fabricadas com a fibra do sisal, reduzindo, assim, a quantidade de derivados de petróleo que utiliza. Até o final do ano, algumas unidades do novo Ka, Fiesta, Ecosport, Focus e Ranger já contarão com essas peças. A empreitada, porém, esbarra no início da cadeia de produção do sisal, pouco desenvolvida tecnologicamente, com mão-de-obra pouco ou nada qualificada e que ainda utiliza máquinas perigosas, capazes de mutilar os operadores. O sisal foi escolhido após teste com outros tipos de fibra, como a juta, coco e cana. O objetivo da Ford é trabalhar com matérias-primas menos agressivas ao meio ambiente e depender cada vez menos do petróleo, fonte de energia não-renovável e que, nos últimos anos, tem sido razão de forte pressão de custos. Além disso, ao utilizar o sisal para compor até 30% das peças injetadas é possível chegar a uma redução de 10% no peso dos veículos. "Quanto mais leve o carro, mais econômico", explica Celso Duarte, supervisor de desenvolvimento de produto da montadora. O uso da fibra também será feito em peças moldadas, como os painéis. Os novos modelos de carros que utilizem matérias-primas alternativas como a juta também serão mais baratos. A projeção da multinacional é que os preços fiquem entre 3% e 8% menores. O sisal é uma fibra flexível que se mescla facilmente com o polipropileno e que, quando sofre choques e quebra, não forma pontas. Isso aumenta a segurança dos passageiros. A montadora procurou aumentar a quantidade de matéria-prima reciclada e reciclável em seus veículos. As peças injetadas terão além de 30% de fibras de sisal em sua composição, 50% de polipropileno reciclado e 20% de polipropileno virgem. Esse composto será 100% reciclável. Quem produzirá esse insumo não será a Ford. Ela cederá a patente da tecnologia a seus fornecedores de polipropileno como a Dow e a Autometal. A Ford detém as patentes dessas peças de fibra de sisal e pretende levar isso a outros países e montadoras. A partir de 2010, a demanda pelas peça com sisal deve aumentar significativamente, já que a Europa exigirá que 75% dos componentes dos automóveis sejam recicláveis e 30% sejam reciclados.