06/05/11 11h31

Foxconn planeja antecipar produção no país

Valor Econômico

A Foxconn quer antecipar, de novembro para julho, o início da produção de iPads e iPhones, os computadores tablet e celulares de terceira geração da Apple, no Brasil, informou o presidente da Foxconn, Terry Gou, em carta à presidente Dilma Rousseff. O executivo pediu apoio do governo para as providências necessárias ao funcionamento da nova linha de produção, que tem fortes chances de ser instalada na fábrica da empresa em Jundiaí, São Paulo. O governo deve editar em breve uma regulamentação para dar aos tablets os mesmos incentivos fiscais hoje concedidos aos computadores portáteis, os notebooks.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, informou que o governo não incluirá os tablets entre os beneficiários das regras de incentivo existentes, mas fará regras de isenção fiscal específicas para o produto. Um dos pedidos de Gou a Dilma, na carta, é apoio para o envio imediato de 200 engenheiros brasileiros à China, onde deverão receber treinamento para atuar na fábrica no Brasil. Gou disse que também quer trazer técnicos chineses ao país e, para ambos os casos, precisaria de maior agilidade na liberação de passaportes e vistos. Representantes do governo e da Foxconn podem reunir-se na semana que vem para discutir o assunto e analisar o processo de escolha dos engenheiros e técnicos.

Segundo Mercadante, o governo está concluindo os estudos técnicos para avaliar o projeto bilionário prometido por Gou. O ministro nega que o empresário taiwanês tenha se comprometido em investir apenas metade desse valor, à espera de sócios no país que complementassem o investimento. "O que ele disse é que não será minoritário no negócio", adianta Mercadante, que prevê apoio financeiro do BNDES aos eventuais sócios brasileiros. Já há empresas interessadas, em conversas com o governo, com experiência de consultoria na área e prognósticos positivos a respeito do Brasil como base de produção de displays para eletrônicos na América Latina, afirma Mercadante.

"Fizemos estudo sobre a agenda de investimento, que tem questões tributárias, logísticas, de formação de pessoal e segurança", adiantou. Ele garantiu que os incentivos já existentes para a produção de semicondutores no Brasil atendem à maior parte das demandas da empresa. O governo já discute com outra empresa um incentivo de "centenas de milhões de dólares" na área de tecnologia de informação. "A parte mais substancial (das demandas da Foxconn) é atendida, e numa parte terão de ser feitos ajustes", comentou o ministro. "Eles querem agilidade no processo alfandegário, e a localização da fábrica é algo que ainda não está definido", disse. "Tem de ter logística eficiente, muita banda larga, muita energia, acesso de qualidade, aeroporto internacional, boa infraestrutura no entorno".

Na carta a Dilma, Gou fez questão de dar garantias de respeito à legislação trabalhista brasileira "de qualidade" e assegurar que haverá boas condições de trabalho nas instalações da empresa. O governo diz acreditar que o empresário vê, no Brasil, uma chance de mudar a imagem da companhia, abalada com denúncias de super-exploração de mão de obra, alimentadas por uma onda de suicídios no complexo industrial da China - a qual serve de modelo ao projeto anunciado para o investimento em território brasileiro.

As medidas para isentar de impostos e facilitar importação de componentes destinados á produção de tablets e celulares para a Foxconn serão editadas pela Secretaria da Receita Federal. Dilma Rousseff, segundo Mercadante, está pessoalmente empenhada na negociação com a empresa. Dependendo das condições obtidas, a produção das instalações no Brasil poderão até estender o mercado alvo, para além da América Latina, com ambições de uma fatia do mercado nos Estados Unidos, acenou o empresário taiwanês, no esforço para conseguir a boa vontade do governo brasileiro.