24/03/10 10h57

Futuro da energia

Agência FAPESP

O Projeto Global Sustainable Bioenergy (GSB) - que reúne cientistas de vários países em um esforço internacional para viabilizar a futura produção de energia sustentável em escala mundial - iniciou nesta terça-feira (23/3), em São Paulo, a terceira das cinco convenções que compõem sua primeira etapa. A Latin American Convention of The Global Sustainable Bioenergy Project prosseguirá até a próxima quinta-feira (25/3), na sede da FAPESP, com o objetivo de fornecer uma plataforma para oportunidades, desafios e preocupações regionais e transnacionais relacionados à bioenergia. As duas convenções anteriores foram realizadas na Holanda e na África do Sul. As duas últimas estão marcadas para junho, na Malásia, e julho, nos Estados Unidos.

Durante o evento, o presidente do comitê diretor do Projeto GSB, Lee Lynd, professor de biologia do Dartmouth College (Estados Unidos), destacou os rápidos avanços conseguidos pela iniciativa, oficialmente iniciada em junho de 2009. "Há um ano, todo esse processo era apenas uma ideia. Mas o projeto cresceu e a cada semana temos um círculo maior de participantes. Já nas duas primeiras convenções tivemos indicações de uma possível resposta favorável à questão que colocamos como ponto de partida para o projeto: se é fisicamente possível chegar ao uso de bioenergia em escala global, suprindo ao mesmo tempo as necessidades alimentares e ambientais do planeta", disse.

Lynd, pioneiro no estudo da utilização da biomassa para a produção de energia, explicou que as convenções têm o objetivo de identificar os obstáculos para a produção de bioenergia em larga escala. No segundo estágio, além de responder se há possibilidade física de uma generalização sustentável da bioenergia, os organizadores vão procurar também responder se esse objetivo é de fato desejável. "A certeza que temos é que as tendências atuais de consumo de energia não são sustentáveis. A manutenção desses padrões é mais uma fantasia do que uma perspectiva real. Por isso, o primeiro passo para o projeto GSB é tentar mostrar o que é possível, sempre com foco no que é desejável. Sem isso não conseguiremos o apoio dos responsáveis pelas políticas públicas", disse.

Segundo Lynd, os estudos realizados até o momento deixam claro que a cana-de-açúcar - cuja produção para bioenergia é dominada pelo Brasil - é o melhor dos insumos de primeira geração disponíveis para uso em biocombustíveis. "A cana-de-açúcar é também claramente competitiva em termos econômicos. O custo do insumo não seria uma limitação. Já o custo da terra configura uma questão importante. Será necessário cultivar variedades com uma composição otimizada para a fotossíntese", afirmou.

As discussões, segundo Lynd, começam a indicar que há realmente viabilidade física para a produção global de bioenergia sustentável. Com o uso da biomassa, existe até mesmo a possibilidade de se chegar a um ciclo neutro para o carbono. Mas os especialistas ainda não conseguiram um consenso quando se trata de discutir se a adoção da bioenergia como matriz principal é desejável. "O problema é que existem ainda muitas avaliações negativas disseminadas pelo mundo quanto ao desejo de um futuro com matriz bioenergética. Mesmo aqueles que têm acesso às mesmas informações acabam chegando a conclusões diferentes em relação a isso. Essas divergências refletem as expectativas diferentes em relação à capacidade de inovação e de mudança de hábitos", disse.